Acordo da Netflix com Warner Bros enfrenta resistência antitruste
Fusão de US$ 72 bi levanta alerta sobre concentração no streaming e pressiona análise do Departamento de Justiça dos EUA
247 - A Netflix anunciou um acordo de US$ 72 bilhões para adquirir os estúdios e a divisão de streaming da Warner Bros Discovery, incluindo a plataforma HBO Max, o que pode redefinir o mercado global de entretenimento. O movimento, porém, já desperta preocupações entre autoridades e parlamentares sobre seus impactos na concorrência.
Segundo a Reuters, a Netflix tem apresentado a fusão como alinhada às prioridades dos responsáveis pela política de concorrência do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, destacando supostos benefícios para consumidores, trabalhadores e para a inovação tecnológica.
Executivos da companhia afirmam que a combinação dos catálogos ampliará a oferta de produções e entregará “mais valor pelo que pagam” aos cerca de 300 milhões de assinantes. A empresa também sustenta que o acordo reforçaria a criação de empregos na indústria audiovisual, em um momento em que a gestão Trump enfatiza preços mais baixos e maior acessibilidade em serviços essenciais e digitais.
A reação política, no entanto, ocorreu antes mesmo da formalização do anúncio. Parlamentares republicanos alertam que a absorção da HBO Max e dos direitos de conteúdo da Warner Bros reduziria a diversidade de opções ao público e daria à Netflix uma parcela considerada excessiva do mercado de streaming.
O senador republicano Mike Lee, de Utah, que preside o comitê antitruste do Senado, foi um dos primeiros a se manifestar. Em publicação nas redes sociais, ele afirmou que a eventual fusão “deveria soar o alarme para autoridades antitruste ao redor do mundo”. Lee ainda reforçou a preocupação ao declarar: “A Netflix construiu um grande serviço, mas aumentar o domínio da empresa dessa forma significaria o fim da Era de Ouro do streaming para criadores de conteúdo e consumidores.”
Também republicanos, o senador Roger Marshall, do Kansas, e o deputado Darrell Issa, da Califórnia, pediram no mês passado que as autoridades antitruste dos Estados Unidos examinassem o acordo com rigor. Segundo eles, a redução da competição poderia desestimular a Netflix a investir em filmes para lançamento nos cinemas, afetando tanto o público quanto profissionais independentes.
Diante do tamanho da operação e do peso das empresas envolvidas, o negócio deverá passar por uma análise ampla do Departamento de Justiça (DOJ). A união dos mais de 300 milhões de assinantes da Netflix com os 128 milhões da HBO Max criaria um gigante do entretenimento. A empresa, porém, deve argumentar que mudanças no hábito de consumo — como a ascensão do YouTube, plataforma mais usada pelos americanos para assistir TV — justificariam nova dinâmica no setor.
A disputa pelos ativos da Warner Bros Discovery também envolveu a Paramount Skydance, liderada por David Ellison, apontada como mais próxima politicamente da administração Trump, segundo a Reuters. Mesmo assim, foi a oferta da Netflix que prevaleceu, intensificando o debate sobre o poder crescente da plataforma no ecossistema audiovisual.
O CEO da Netflix, Ted Sarandos, reiterou confiança na aprovação do acordo e defendeu sua legitimidade. “Estamos altamente confiantes no processo regulatório. Este acordo é pró-consumidor, pró-inovação, pró-trabalhador, pró-criador e pró-crescimento”, afirmou.
A unidade antitruste do DOJ é comandada por Gail Slater, ex-executiva da Fox Corp e da Roku, que também atuou como assessora econômica do vice-presidente JD Vance. Desde sua nomeação, Slater tem frisado que a lei de concorrência deve proteger consumidores, trabalhadores e a inovação — sinalizando que a operação passará por escrutínio detalhado.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já interveio em grandes fusões de mídia no passado. Em seu mandato anterior, pressionou o Departamento de Justiça a barrar a compra da Time Warner pela AT&T, alegando concentração excessiva e insatisfação com a cobertura da CNN, então controlada pela Time Warner. A AT&T venceu a disputa nos tribunais em 2018 e 2019, episódio que agora serve como referência no debate sobre a nova megafusão no setor de entretenimento.



