Lula descarta privatização dos Correios e admite parcerias
Presidente afirma que estatal não pode seguir deficitária e promete mudanças na gestão para recuperar a empresa
247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em conversa com jornalistas no Palácio do Planalto, em Brasília, nesta quinta-feira (18), que não pretende privatizar os Correios enquanto estiver no comando do país. Segundo ele, a manutenção da empresa sob controle público não significa aceitar prejuízos recorrentes, mas buscar alternativas para garantir eficiência e equilíbrio financeiro.
Lula declarou não ter interesse em manter uma estatal deficitária e indicou que pode discutir parcerias com a iniciativa privada ou até a transformação dos Correios em uma companhia de economia mista, sem abrir mão do controle público.
“Eu não tenho interesse em ter uma empresa estatal dando prejuízo. Até porque não acho que o povo brasileiro, que não tem nada a ver com aquela estatal, tem que ficar pagando prejuízo”, afirmou o presidente. Em seguida, reforçou sua posição contrária à privatização: “Enquanto eu for presidente não tem privatização. O que pode ter é construção de parceria com empresas. Eu sei que tem empresas italianas querendo vir aqui discutir com os Correios”.
A estatal acumula prejuízo de R$ 6,05 bilhões entre janeiro e setembro deste ano. Desde 2022, o resultado negativo chega a aproximadamente R$ 10 bilhões, o que levou a empresa a buscar recursos para reequilibrar as contas. Lula disse lamentar profundamente a crise enfrentada pelos Correios e explicou que, diante desse cenário, decidiu promover mudanças na gestão.
Segundo o presidente, medidas mais duras não estão descartadas. “Nós não podemos ter uma empresa pública, por mais importante que ela seja, dando prejuízo. Eu sempre digo que uma empresa pública não precisa ser a rainha do lucro, mas ela não pode ser a rainha do prejuízo. Ela tem que se equilibrar”, declarou. Ele acrescentou que ajustes podem incluir até o fechamento de agências, se necessário.
Lula também afirmou que pretende alterar cargos de comando na empresa. “Nós vamos tomar as medidas que tiver que tomar, mudar todos os cargos que tiver que mudar, e a pessoa que está lá vai indicar as pessoas que tiverem competência para girar os Correios”, disse. O presidente destacou ainda que a ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, já tem a missão de entregar a estatal recuperada dentro do prazo considerado possível pelo governo.
O presidente comentou que os Correios atribuíram parte das perdas à chamada taxa das blusinhas, que teria gerado impacto de cerca de R$ 1 bilhão, mas avaliou que o principal problema foi uma gestão equivocada. Apesar das dificuldades financeiras, voltou a descartar qualquer hipótese de privatização, mantendo como alternativas parcerias estratégicas ou um modelo de economia mista.
No início do mês, o Tesouro Nacional rejeitou um pedido de empréstimo de R$ 20 bilhões feito pela estatal, após bancos cobrarem juros equivalentes a 136% do CDI, acima do teto de 120% estabelecido pelo Comitê de Garantias do Tesouro. Já na terça-feira (16), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou que os Correios encaminharam uma nova proposta de financiamento ao governo.
A empresa busca um empréstimo com garantia da União para viabilizar sua reestruturação e cumprir a meta de voltar ao lucro em 2027, definida pelo novo presidente da estatal, Emmanoel Schmidt Rondon. Questionado sobre a possibilidade de o valor do financiamento chegar a R$ 12 bilhões, Haddad afirmou: “Pode chegar a isso”.



