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Haddad defende reinvenção dos Correios

Ministro afirma que estatal precisa mudar modelo de negócios, ampliar parcerias e agregar novos serviços para garantir a universalização postal

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participa de audiência na Câmara dos Deputados, em Brasília-DF - 24/09/2025 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

247 - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou ao jornal O Globo que os Correios atravessam uma situação que exige mudanças profundas em seu modelo de funcionamento. Segundo ele, a combinação entre forte concorrência no setor de logística, obrigações constitucionais e um rombo financeiro expressivo impõe à estatal a necessidade de uma reestruturação ampla, capaz de garantir sustentabilidade no longo prazo.

Haddad avaliou que a empresa perdeu espaço no mercado após o fim do monopólio postal, enquanto concorrentes privados passaram a disputar os segmentos mais lucrativos da logística. Nesse cenário, a estatal manteve o dever de universalizar o serviço em todo o território nacional, o que, segundo o ministro, aumenta os custos e pressiona o caixa.

“Concordo que os Correios precisam de uma reestruturação, porque, quando se acaba com um monopólio e todo mundo começa a competir pelo filé mignon da logística, vai se perder espaço no mercado”, afirmou Haddad. Ele ressaltou que, apesar da mudança no ambiente competitivo, a obrigação constitucional permanece: “Como os Correios têm obrigação constitucional de universalizar o serviço postal, tem esse ônus”.

O ministro explicou que o governo tomou conhecimento detalhado da dimensão do problema após uma análise feita com a nova diretoria da empresa. A partir desse diagnóstico, passou a ser discutida uma solução financeira associada a mudanças estruturais. “Nós estamos fazendo, tudo dando certo, o empréstimo dos Correios para se reestruturar e pagar o empréstimo. Isso está sendo combinado com a atual diretoria”, disse.

Para Haddad, a solução passa por uma transformação do papel tradicional da estatal. “Então, vai ter que ter uma reinvenção dos Correios”, afirmou, ao defender que a empresa agregue novos serviços ao atendimento postal. Segundo ele, essa estratégia já é adotada em outros países como forma de compensar os custos da universalização.

“No mundo inteiro se faz uma estimativa dos custos de universalização que não são cobertos pela tarifa”, explicou. A partir disso, a estatal pode ampliar suas fontes de receita: “Agrega valor no serviço postal mediante oferta de serviços, que pode ser de previdência, de seguro, uma série de serviços que se agregam ao postal”.

Haddad destacou ainda a possibilidade de parcerias institucionais para ampliar a capilaridade e reduzir custos operacionais. “Em geral, um banco, uma Caixa Econômica pode fazer uma parceria com os Correios para ter capilaridade em relação aos serviços que ela própria presta. E ela pode fazer isso em comum acordo com os Correios, com instalações comuns. É assim que está sendo feito no mundo”, afirmou.

Segundo o ministro, o plano de reestruturação está em discussão há meses e passa por análises rigorosas do Tesouro Nacional. “O projeto de reestruturação já está na décima e não sei quantas versões, porque o Tesouro está sendo rigoroso no pedido de que seja uma solução definitiva para a companhia”, disse.

Ao comentar o conjunto das estatais federais, Haddad afirmou que nem todas enfrentam o mesmo nível de dificuldade, mas reconheceu que os Correios exigem atenção especial. “Quando se coloca tudo no mesmo saco, os Correios realmente se destacam”, declarou, acrescentando que a empresa, ao lado da Eletronuclear, inspira maior cuidado por parte do governo federal.

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