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Brasil segue polarizado, mas com paradoxos: Lula supera Bolsonaro, mas direita supera esquerda

Pesquisa Datafolha mostra que 74% se identificam como petistas ou bolsonaristas, enquanto 57% se declaram de direita ou esquerda — com vantagem da direita

Brasil segue polarizado, mas com paradoxos: Lula supera Bolsonaro, mas direita supera esquerda (Foto: Ricardo Stuckert | Reuters )

247 – O Brasil segue mergulhado em um ambiente de forte polarização política, mas os números revelam um quadro cheio de paradoxos. Segundo a mais recente pesquisa Datafolha, publicada em reportagem da Folha de S. Paulo, 74% dos brasileiros se identificam com algum dos dois principais polos políticos do país — o campo ligado ao presidente Lula e o grupo associado a Jair Bolsonaro. Nesse recorte, os petistas voltaram a ser maioria: 40%, contra 34% de bolsonaristas.

O levantamento foi realizado entre 2 e 4 de dezembro, com 2.002 entrevistas em 113 municípios, ouvindo eleitores com 16 anos ou mais. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Além dos dois grupos polarizados, 18% se declararam neutros, 6% disseram não apoiar nenhum dos dois, e 1% não soube responder.

Petistas voltam à dianteira após um período de empate técnico

Na rodada anterior, realizada no fim de julho, o cenário era de empate técnico: 39% se diziam mais próximos do partido de Lula e 37% alinhados a Bolsonaro. Agora, embora a variação também ocorra dentro da margem de erro, a distância deixou de configurar empate, e o grupo petista retoma a liderança numérica.

O Datafolha usa, desde dezembro de 2022, uma escala para medir essa identificação:
considerando uma escala de 1 a 5, onde 1 é bolsonarista e 5 petista, em qual número você se encaixa?
Quem responde 1 ou 2 é classificado como bolsonarista; quem marca 4 ou 5 entra no grupo petista; e os que respondem 3 são considerados neutros.

Segundo a própria série histórica citada na reportagem, os apoiadores de Lula foram maioria em 9 dos 11 levantamentos realizados desde então, o que reforça a estabilidade estrutural desse campo dentro da polarização.

A pesquisa foi feita após a prisão e condenação de Bolsonaro

A reportagem da Folha destaca que o levantamento ocorreu em um momento politicamente decisivo: após a prisão e condenação de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. O ex-presidente, ainda conforme o texto, já havia sido colocado em prisão domiciliar por descumprir medidas cautelares e, antes da condenação, chegou a ser preso preventivamente em Brasília após tentar violar a tornozeleira eletrônica.

Enquanto isso, o presidente Lula aparece em posição confortável no horizonte eleitoral. A pesquisa, segundo a reportagem, aponta que Lula lidera as intenções de voto para a eleição de 2026 tanto no primeiro quanto no segundo turno.

Quem é mais petista e quem é mais bolsonarista

Os dados revelam que a polarização não é homogênea: ela se distribui com nitidez por gênero, renda, religião, escolaridade e região.

De acordo com o Datafolha, o petismo é mais concentrado:

  •  Entre mulheres (42%)
  •  Entre aposentados (45%)
  •  Entre quem tem até o ensino fundamental (52%)
  •  Na região Nordeste (49%)
  •  Entre católicos (48%)

o bolsonarismo prevalece:

  •  Entre homens (37%)
  •  Entre empresários (41%)
  •  Entre quem ganha de cinco a dez salários mínimos (42%)
  •  Na região Sul (41%)
  •  Entre evangélicos (47%)

Polarização cresce com a idade: 84% entre eleitores acima de 60 anos

A polarização também se intensifica entre os mais velhos. Entre pessoas com 60 anos ou mais, 84% se encaixam como petistas ou bolsonaristas, sendo 46% mais próximos de Lula e 38% inclinados a Bolsonaro. Esse dado indica que, para essa faixa etária, a disputa entre os dois líderes segue estruturando a forma como se percebe a política nacional.

O paradoxo central: direita supera esquerda, apesar da vantagem de Lula na polarização

É nesse ponto que surge o principal paradoxo revelado pela pesquisa. Embora o campo petista seja numericamente maior do que o bolsonarista, a identificação ideológica mostra um país mais inclinado à direita do que à esquerda.

De acordo com o levantamento, 57% dos entrevistados se definem como de direita ou esquerda, sendo:

  •  35% de direita
  •  22% de esquerda

Outros segmentos se distribuem no centro:

  •  7% centro-esquerda
  •  17% centro
  •  11% centro-direita
  •  8% não souberam responder

Ou seja: o eleitorado que se vê como “de direita” é significativamente maior do que o que se vê como “de esquerda”, mesmo em um cenário em que o grupo identificado como petista é maior do que o bolsonarista.

Trânsito de votos expõe contradições ideológicas

Outro dado destacado pela reportagem reforça essa complexidade: a autodeclaração ideológica não determina de forma automática o voto.

Entre os que se disseram de esquerda, 9% afirmaram ter votado em Bolsonaro em 2022. No grupo identificado como de direita, 22% declararam ter votado em Lula. Isso indica que parte relevante do eleitorado se move por fatores que não se reduzem à identidade ideológica.

Quando o recorte é feito dentro dos grupos polarizados, esse trânsito parece menor, mas ainda presente:

  •  5% dos bolsonaristas disseram ter votado em Lula
  •  7% dos petistas afirmaram ter votado em Bolsonaro

O que a pesquisa sugere sobre o Brasil de 2026

O retrato traçado pelo Datafolha sugere um Brasil em que a polarização segue predominante, mas em que as identidades políticas convivem com contradições profundas. Lula lidera o polo mais numeroso, mas o país se declara majoritariamente de direita, o que tende a manter o ambiente de tensão política e disputa simbólica em alta.

A pesquisa indica também que, apesar da centralidade de Lula e Bolsonaro como polos estruturadores, há uma camada significativa que se vê como neutra, centrista ou sem alinhamento direto, e que pode voltar a ser decisiva no jogo eleitoral.

Em resumo, o Brasil segue polarizado — mas a fotografia é mais complexa do que o simples embate entre dois líderes. Ela revela um país onde a disputa entre petismo e bolsonarismo continua determinante, mas em que o eixo ideológico direita-esquerda aponta para uma inclinação conservadora, mesmo quando o petismo aparece numericamente à frente.

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