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De rusga com PT e PL, Motta forma “blocão” com partidos do Centrão

Presidente da Câmara articula bloco de centro-direita e garante maioria para avançar pautas sem PT e PL

Hugo Motta (Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)

247 - O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), articulou a formação de um superbloco com 275 deputados, acirrando o distanciamento em relação ao PT e ao PL. Segundo a Folha de S.Paulo, o movimento também é interpretado por parlamentares como um passo estratégico para que o presidente da Câmara pavimente sua tentativa de reeleição em 2027, mesmo diante de dissidências internas e tensões crescentes.

Rearticulação após desgaste com PT e PL

A nova formação resgata parte do grupo que apoiou Motta em sua eleição, em fevereiro, quando obteve 444 votos. Desde o início do ano, porém, a aliança havia se esvaziado com as saídas de Solidariedade, Patriota, Avante, além do próprio PT e do PL.

O ambiente se deteriorou ao longo de agosto, quando o PT oficializou sua retirada do bloco após o governo ser derrotado em uma articulação na CPMI do INSS que garantiu posições estratégicas a oposicionistas. Naquele momento, segundo a reportagem,a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, tratou com aliados sobre a possibilidade de também deixarem o agrupamento. De acordo com um líder que acompanhou as conversas, a ministra foi informada quando a reorganização liderada por Motta já estava concluída.

Como funciona o superbloco de 275 deputados

A recomposição reúne União Brasil, PP, PSD, Republicanos, MDB, a federação PSDB/Cidadania e o Podemos. Com 275 dos 513 parlamentares, o grupo garante maioria automática e autonomia para aprovar requerimentos de urgência sem precisar de apoio da esquerda ou da extrema direita.

A liderança do superbloco funcionará em sistema de revezamento, com mandatos de cerca de 30 dias. O primeiro líder anunciado foi Pedro Lucas Fernandes (União Brasil-MA), hoje substituído por Doutor Luizinho (PP-RJ). Ao todo, a estrutura conta com 63 vice-líderes, número superior ao de quase todos os partidos da Câmara.

Aprovação do projeto antifacção impulsiona ruptura

A robustez do bloco se evidenciou na aprovação do projeto de lei antifacção, aprovado por 370 votos a 110, mesmo com a resistência do governo. O PT criticou a indicação de Guilherme Derrite (PP-SP) como relator e mudanças no texto, considerado prioridade pelo presidente Lula na segurança pública.

Já o PL insistiu em votar uma emenda que classificava facções criminosas como organizações terroristas, proposta rejeitada por Motta por inconstitucionalidade. A decisão levou ao agravamento de tensões com o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ). Segundo a coluna de Mônica Bergamo, Motta enviou ao parlamentar uma mensagem afirmando que ele não poderia mais contar com o comando da Casa.

As fricções também culminaram no rompimento com o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ). À Folha, Motta declarou não ter “mais interesse em ter nenhum tipo de relação com o deputado Lindbergh Farias”.

Tensões com lideranças e impactos políticos

Com o afastamento de lideranças do PT e do PL, que figuram entre as maiores bancadas da Casa, aliados afirmam que Motta reduz seu círculo de apoio mais próximo. Entre os exemplos citados está a distância crescente em relação ao ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL).

Mesmo assim, o novo bloco é visto como uma plataforma capaz de garantir vantagem inicial a Motta em uma eventual disputa pela reeleição ao comando da Câmara em 2027, dependendo da configuração partidária após o pleito presidencial do próximo ano, independentemente de possíveis pressões do PT e do PL. 

Cenário para a disputa pela presidência da Câmara

Aliados, porém, negam que a articulação tenha sido conduzida com foco direto na sucessão. “Não houve discussão de eleição de presidente na Câmara. Ainda falta muito tempo, temos uma eleição no meio. Ninguém sabe quem serão os eleitores da próxima Mesa Diretora”, afirmou Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL), um dos principais apoiadores de Motta.

Nos bastidores, porém, outros nomes são citados como potenciais concorrentes, entre eles Antonio Brito (PSD-BA), Doutor Luizinho (PP-RJ), Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), Altineu Côrtes (PL-RJ) e o próprio Isnaldo. Embora mencionado, Arthur Lira é considerado por aliados um provável candidato ao Senado no próximo ano.

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