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Governo Lula vê candidatura de Flávio Bolsonaro como brecha para redesenhar alianças no centrão

Lançamento do senador pelo PL é interpretado como movimento que fragmenta a direita e pode ampliar o espaço de negociação para a reeleição de Lula

Presidente Lula durante entrevista à TV Verdes Mares. Fortaleza (CE) (Foto: Foto: Ricardo Stuckert / PR)

247 – Integrantes do governo do presidente Lula avaliam que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro (PL) à Presidência abre uma possibilidade concreta de reorganização das alianças políticas no centrão. A leitura majoritária é de que, mesmo que a movimentação da família Bolsonaro não se consolide em uma candidatura firme, ela já provoca rearranjos que favorecem o diálogo com partidos hoje integrados à base governista.

As informações foram publicadas pelo jornal Folha de S.Paulo, que destaca a avaliação de dirigentes do centrão segundo a qual o lançamento do senador serviria à sobrevivência política da família Bolsonaro — ainda que isso possa resultar no próprio isolamento de Flávio. Com a direita dividida, lulistas veem espaço para avançar sobre legendas que, até poucas semanas atrás, cogitavam se unificar em torno do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Duas leituras no governo: cálculo tático ou aposta de longo prazo

Entre ministros e assessores de Lula, duas hipóteses principais explicam o gesto de Jair Bolsonaro ao promover o nome do filho.

Uma ala acredita que o ex-presidente tenta preservar seu peso político para negociar um apoio mais vantajoso em 2026. Flávio, por sua vez, se manteria em evidência para fortalecer sua campanha de reeleição ao Senado.

Outra vertente do governo aposta na autenticidade da candidatura, entendendo-a como estratégia para manter concentrado na família o capital político do bolsonarismo. Mesmo diante do risco de derrota para Lula, essa linha de interpretação vê o movimento como uma forma de evitar que votos sejam drenados por alternativas de centro.

Há ainda lulistas que vislumbram um cálculo de médio prazo: um adversário que chegue ao segundo turno contra Lula em 2026 — caso o presidente seja reeleito — naturalmente assumirá a liderança da oposição, tornando-se um nome competitivo para 2030.

A disputa interna da direita e os ajustes na comunicação do governo

A entrada de Flávio Bolsonaro no debate eleitoral altera imediatamente o foco das atenções dentro da direita. Até aqui, Tarcísio de Freitas vinha centralizando apoios e expectativas. A nova configuração recoloca Jair Bolsonaro e sua família no centro da arena política.

Lula tem repetido que não escolhe adversários, mas aliados reconhecem que haverá ajustes na comunicação presidencial. A narrativa, antes focada na crítica à gestão Tarcísio, passará a reforçar comparações diretas com o governo Bolsonaro.

Nas redes, aliados já reagiram. O ministro da Secretaria-Geral, Guilherme Boulos, provocou Flávio no X, antigo Twitter, ao afirmar: “Lula derrotou Bolsonaro em 2022. Agora vamos derrotar o filho em 26. Só não vai desmaiar no debate, Flávio Bolsonaro!”

PT adota cautela, mas vê cenário favorável para ampliar base

Apesar da movimentação acelerada na direita, o PT ainda evita estruturar uma estratégia eleitoral voltada exclusivamente para enfrentar Flávio Bolsonaro. Segundo a reportagem, dirigentes petistas afirmam que o bolsonarismo vive um processo contínuo de mudanças internas e que é cedo para tratar a candidatura como definitiva.

A expectativa é aguardar até o fim do primeiro semestre de 2026, quando o quadro partidário estará mais consolidado.

Se o cenário se confirmar, porém, há quase consenso de que a rejeição associada ao nome Bolsonaro pode facilitar negociações para reforçar o apoio à reeleição de Lula. A presença de Flávio na disputa, avaliam petistas, tende a reduzir o apelo de eventuais candidaturas de centro-direita.

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