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Empresa é condenada por racismo após demitir vendedora por tranças afro

Justiça do Trabalho determina pagamento de R$ 15 mil a jovem de 22 anos dispensada em Alagoas por discriminação racial

Ana Gabriela Barros (Foto: Reprodução/Instagram/@gabriela.barrooss)

247 - A 9ª Vara do Trabalho de Maceió condenou a Polibank Representante Autorizada LTDA a indenizar a vendedora Ana Gabriela Barros, 22, por tê-la demitido após exigir que retirasse tranças afro usadas no ambiente de trabalho. A informação foi divulgada pela Folha de São Paulo, que obteve acesso à sentença assinada pelo juiz Emanuel Holanda Almeida.

O magistrado reconheceu que a dispensa ocorreu por discriminação racial, aplicando o Protocolo para Julgamento com Perspectiva Racial do CNJ. Ele concluiu que a exigência para que a funcionária removesse as tranças, sob justificativa de “padrão da empresa”, configurou racismo estrutural e violação à dignidade da trabalhadora.

Ana Gabriela trabalhou na empresa de outubro de 2024 a março de 2025. Após colocar tranças afro no início do ano, passou a ser pressionada pela proprietária do negócio. Na primeira ocasião, recebeu um ultimato para desfazer o penteado. "Falou que, se fosse necessário, ela me ajudaria a tirá-la", relatou.

Mesmo sem existir norma formal que proibisse o uso de tranças, a situação se repetiu meses depois. Ao recusar retirar o penteado pela segunda vez, foi demitida sem justa causa e submetida a um aviso prévio que descreve como constrangedor. "A pior parte foi continuar trabalhando lá mesmo depois de ter sofrido racismo. Nesse período não me deixaram atender nenhum cliente, mas tinha que captá-los e repassar para ela, além de fazer panfletagem", disse.

A Polibank não respondeu à Folha, mas, no processo, negou discriminação e alegou ter políticas de vestimenta e aparência supostamente aplicadas a todos. Também atribuiu a demissão a fatores de desempenho. A vendedora, porém, afirma ter seguido todas as regras da empresa e apresentou fotos como prova.

Ela relatou ainda ter sido comparada a uma pessoa branca pela proprietária, episódio que reforçou o caráter discriminatório da exigência. "Mesmo assim ela me comparou a uma pessoa branca e disse que até permitiria que eu usasse trança se eu tivesse o mesmo padrão social que essa pessoa [branca]", afirmou.

As consequências emocionais foram intensas. "Por mais que eu achasse que pudesse ignorar, que poderia tirar [a trança], eu sabia que aquilo não era sobre o meu profissionalismo, mas sobre racismo. Fiquei com medo, sem reação", contou. Após a demissão, enfrentou crises de ansiedade e episódios de choro.

Na sentença, o juiz destacou que a funcionária foi submetida a humilhação e profunda violação de sua dignidade, determinando a indenização por danos morais no valor de R$ 15 mil.

Hoje morando com a irmã, Ana Gabriela trabalha como modelo e participa de projetos sociais voltados à população negra da periferia. Depois que o caso repercutiu nas redes sociais, recebeu convite de outra loja para atuar como vendedora. Embora considere o valor da indenização baixo, ela celebra a decisão judicial. "Estou feliz porque não será mais um caso impune. A única forma de combater o racismo é denunciando. Inclusive, quero afirmar que nosso cabelo não define nosso profissionalismo", afirmou.

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