Tarcísio cobra intervenção federal na Enel após caos em São Paulo
Governador diz que São Paulo não pode ficar “refém” da empresa e afirma que plano de contingência falhou diante de blecaute que deixou milhões sem luz
247 – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), defendeu nesta quinta-feira, 11, a intervenção do governo federal na Enel Distribuição São Paulo após o apagão provocado por uma ventania histórica que deixou mais de 2 milhões de moradias sem energia elétrica na Grande São Paulo. A declaração foi dada em meio à continuidade das falhas no fornecimento, que ainda atingiam cerca de 1,3 milhão de imóveis na manhã seguinte ao temporal. As informações foram publicadas pelo jornal Estado de S. Paulo.
Ao comentar a atuação da concessionária, Tarcísio foi direto ao afirmar que a medida mais eficaz seria a intervenção. “A intervenção funciona; o plano de contingência não”, disse o governador, ao classificar como “absolutamente insuficiente” a resposta da Enel para restabelecer o serviço.
Segundo ele, o número de equipes mobilizadas pela empresa ficou muito abaixo do necessário. “A gente estava ontem na formação da empresa: 1,2 mil equipes de campo; chegou a 1,6 mil equipes de campo. Isso é absolutamente insuficiente”, criticou.
Responsabilidade federal e cobrança à Aneel
O governador reforçou que a competência sobre a distribuição de energia elétrica é federal, destacando a responsabilidade do Ministério de Minas e Energia e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). “Nós não somos donos do contrato, não temos competência; a competência da energia elétrica, da distribuição, é federal, está no Ministério de Minas e Energia e na Aneel”, afirmou. “A gente tenta dar o máximo de subsídio e fazer o que pode para melhorar a prestação do serviço.”
Em nota, o Ministério de Minas e Energia informou que iniciou, junto com a Aneel, uma força-tarefa para acelerar o restabelecimento da energia. De acordo com a pasta, representantes dos dois órgãos solicitaram “o deslocamento imediato de equipes de distribuidoras de energia elétrica próximas a São Paulo para reforçar o atendimento”. Segundo o ministério, há quase duas mil equipes das concessionárias Enel e Neoenergia Elektro em campo. O MME, porém, não comentou a possibilidade de intervenção federal.
Apagão, aeroportos afetados e críticas à Enel
A ventania que atingiu a capital paulista e a região metropolitana registrou rajadas próximas de 100 km/h, provocando queda de árvores, danos à rede elétrica e o cancelamento de dezenas de voos nos aeroportos de Guarulhos e Congonhas.
Tarcísio afirmou que o governo estadual cumpriu todas as atribuições possíveis. “A gente oficia imediatamente, envia relatórios para a agência reguladora e comunica sobre a situação de todas as concessionárias. O maior tempo de restabelecimento, os maiores problemas são na área da Enel”, disse. Ele comparou o desempenho da empresa com o de outras distribuidoras. “A velocidade de restabelecimento, quando acontece em outros lugares, tem uma melhor performance. É isso que a gente tem que buscar.”
Em tom mais duro, o governador afirmou que o Estado não pode aceitar a continuidade do problema. “A gente não pode ficar refém, como foi dito, não dá”, declarou, durante evento de entrega de apartamentos do programa Casa Paulista, em Carapicuíba, na região metropolitana.
TCU já havia recomendado intervenção
A possibilidade de intervenção federal na Enel já havia sido recomendada pela área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) nove dias antes do blecaute. A sugestão integra um processo aberto em novembro de 2023, após um dos maiores apagões da história recente de São Paulo, quando consumidores ficaram dias sem energia elétrica. O contrato de concessão da multinacional italiana é válido até 2028.
Ao comentar o tema, Tarcísio evitou críticas ao modelo privado de gestão, mas voltou a responsabilizar a concessionária. “Ora: se a empresa é geradora de caixa, a intervenção funciona, porque aí o interventor pega o caixa, faz Opex, faz Capex e resolve o problema. O plano de contingência (que) às vezes não funciona”, afirmou.
A Enel, por sua vez, informou que cumpre suas obrigações regulatórias e contratuais e que trabalha para melhorar o atendimento em três frentes: redução do tempo de resposta em emergências, diminuição de interrupções de longa duração, acima de 24 horas, e mobilização rápida de equipes em situações extremas. A concessionária também afirma ter realizado investimentos recordes no reforço da rede elétrica.



