Lula anuncia retorno do BNDES ao financiamento de serviços na África
‘O Brasil pode suprir lacunas em infraestrutura e segurança alimentar em Moçambique’, disse o presidente
247 - Durante visita oficial a Moçambique nesta segunda-feira (24), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o Brasil voltará a financiar a exportação de serviços para países africanos por meio do BNDES.
No segundo dia da missão oficial, o presidente destacou que a relação entre Brasil e Moçambique vive um momento de retomada após anos de afastamento diplomático. Lula enfatizou que a parceria histórica precisa avançar de forma contínua e estratégica.
Logo no início de sua fala, Lula ressaltou a importância simbólica da visita, que ocorre no ano que marca meio século da independência moçambicana. Ele lembrou que o Brasil esteve entre os primeiros países a reconhecer a soberania do parceiro africano e afirmou que essa trajetória bilateral já enfrentou fases de distanciamento. Segundo ele, apesar do histórico de cooperação, “o Brasil se perdeu por caminhos sombrios e se esqueceu dos laços com a África”, o que acabou impedindo que muitos projetos avançassem.
Ao anunciar a assinatura de nove novos acordos voltados ao fortalecimento institucional de Moçambique, o presidente salientou que as áreas contempladas incluem desenvolvimento, saúde, educação, diplomacia, empreendedorismo, aviação civil, promoção comercial, serviços agroflorestais e assistência jurídica. Para Lula, esse é apenas o início de uma reconstrução mais profunda: “Moçambique é um país em desenvolvimento que ainda possui lacunas de infraestrutura a suprir. Seu crescimento depende de portos, estradas, usinas e linhas de transmissão. O Brasil tem empresas dinâmicas com condições de contribuir”.
Lula afirmou ser essencial recuperar a capacidade de financiamento internacional do BNDES para permitir que empresas brasileiras voltem a disputar projetos no exterior. Segundo ele, “nenhum grande país consegue exportar serviços sem oferecer opções de crédito”. O presidente também citou que o comércio bilateral permanece abaixo do potencial e classificou essa situação como “injustificável entre dois mercados tão familiares”.
Na área da saúde, Lula destacou que o fortalecimento do complexo industrial brasileiro permitirá retomar a produção de fármacos e medicamentos em parceria com Moçambique. Ele também apontou que o Brasil pode desempenhar papel relevante na segurança alimentar africana, observando o potencial produtivo da savana e defendendo modelos agrícolas que preservem o meio ambiente. O presidente anunciou ainda a oferta, a partir de 2026, de até 80 vagas para cursos de formação de formadores em ciências agrárias e até 400 vagas para capacitação técnica em agropecuária, voltadas a profissionais moçambicanos. Segundo ele, a Embrapa participará do esforço com treinamentos presenciais e a distância.
Lula citou também o encontro recente com o presidente moçambicano, Daniel Chapo, em Belém, durante preparativos para a COP30. Ele ressaltou que Moçambique está entre os países mais vulneráveis às mudanças climáticas e que as duas nações poderão atuar conjuntamente em proteção de biomas florestais e transição energética. “Podemos trocar experiências de manejo do fogo e uso sustentável de recursos naturais para preservar ecossistemas”, afirmou, destacando ainda que o Brasil está pronto para cooperar na produção de biocombustíveis.
Outro ponto destacado foi o combate ao crime organizado. Lula afirmou que o Brasil tem investido no uso de inteligência para desarticular redes criminosas e ressaltou que a Polícia Federal está preparada para ampliar a colaboração com Moçambique no rastreamento de ativos ilícitos e no enfrentamento à lavagem de dinheiro.
O presidente também defendeu o aprofundamento do intercâmbio cultural e educacional entre os dois países, citando a necessidade de ampliar a mobilidade estudantil e parcerias acadêmicas. Para ele, a cooperação na produção audiovisual e literária pode fortalecer ainda mais a promoção conjunta da língua portuguesa.
Encerrando sua declaração, Lula disse que o futuro da relação bilateral deve ser guiado por estabilidade e continuidade. “A cooperação entre Brasil e Moçambique não pode mais oscilar entre momentos de aproximação e distanciamento. Enquanto sonharmos juntos, nossa estrada comum permanecerá viva”, afirmou.





