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Boulos diz que governo consultará indígenas sobre hidrovia no Tapajós

Anúncio ocorre após protesto dos Munduruku na COP30 e reforça compromisso oficial com participação social e defesa da Amazônia

Guilherme Boulos (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

247 - O governo federal afirmou que somente dará continuidade ao projeto de hidrovia no Rio Tapajós após ouvir os povos indígenas afetados. A decisão ganhou força depois do protesto realizado pelos Munduruku, que bloquearam na sexta-feira a entrada da área de negociações da COP30, em Belém. As informações são da Agência Brasil.

Boulos destacou que o Executivo pretende conduzir um processo de escuta amplo antes de qualquer avanço sobre a hidrovia. “Nós temos o compromisso, e o governo federal fará, em relação ao Tapajós, uma consulta livre, prévia e informada a todos os povos da região, antes de implementar qualquer projeto no rio. E nós, da Secretaria-Geral da Presidência da República, criaremos uma mesa de diálogo com todos esses povos, para recebê-los em Brasília e construir a solução”, afirmou o ministro.

Segundo ele, a posição do governo foi alinhada momentos antes com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o ministro da Casa Civil, Rui Costa. Boulos também reforçou que a política de reconhecimento territorial seguirá avançando. “Haverá mais demarcações, e esse é o compromisso do presidente Lula, de que, até o ano que vem, mais demarcações serão feitas, garantindo o compromisso do nosso governo com a Amazônia, com os nossos povos e com os movimentos sociais”, destacou.

Protesto dos Munduruku na COP30

A manifestação dos Munduruku ocorreu na manhã de sexta-feira e interrompeu o acesso à chamada Zona Azul, área reservada exclusivamente a participantes credenciados da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30). O ato, pacífico e apoiado por ativistas internacionais, exigia uma reunião com o presidente Lula e a revogação do Decreto nº 12.600/2025, que permite a privatização de empreendimentos hidroviários federais nos rios Madeira, Tocantins e Tapajós.

Os indígenas também criticaram a construção da Ferrogrão, projeto que pretende ligar Mato Grosso ao Pará para o escoamento de commodities agrícolas, e cuja implementação, segundo eles, ameaça seus territórios e modos de vida.

Após o bloqueio, a comitiva indígena foi recebida pelo presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, acompanhado das ministras Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) e Sônia Guajajara (Povos Indígenas).

Durante a fala na Cúpula dos Povos, Boulos comentou o impacto das mobilizações. “Você sabe, Marina, que veio gente da imprensa falar que está tendo muita manifestação na COP. Se tem manifestação na COP, é sinal que o povo está participando da COP. E é isso que a gente quer”, afirmou. Ele acrescentou: “Para que ela seja efetiva tem que ser com participação social, e quem representou, com excelência, a participação e a voz do povo nessa COP foi a Cúpula dos Povos, os povos indígenas, os povos quilombolas e ribeirinhos da Amazônia”.

Carta final denuncia “falsas soluções” climáticas

Ao final do encontro, os organizadores da Cúpula divulgaram um documento que critica abordagens consideradas insuficientes para enfrentar a emergência climática. O texto afirma que “nossa visão de mundo está orientada pelo internacionalismo popular, com intercâmbios de conhecimentos e saberes, que constroem laços de solidariedade, lutas e de cooperação entre nossos povos”.

A carta responsabiliza o modelo de produção capitalista pelo agravamento da crise climática e aponta as comunidades periféricas como as mais impactadas, destacando o racismo ambiental. Também atribui a empresas transnacionais — como indústrias de mineração, energia, armas, agronegócio e Big Techs — parcela central na deterioração ambiental global.

Entre as reivindicações, o documento pede demarcação de terras indígenas e de outros povos tradicionais, reforma agrária com incentivo à agroecologia, eliminação do uso de combustíveis fósseis, financiamento público para uma transição justa por meio da taxação de corporações e grandes fortunas e o fim de conflitos armados. A carta também cobra maior participação popular nos processos de decisão.

Mobilização histórica reúne milhares em Belém

Realizada paralelamente à COP30, a Cúpula dos Povos recebeu cerca de 70 mil participantes — indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores, extrativistas, agricultores familiares, movimentos sociais, trabalhadores urbanos, juventudes e representantes de diversas comunidades tradicionais e periféricas.

Considerado o maior espaço de participação social da conferência climática, o evento, que durou cinco dias, foi marcado por debates, atos públicos e críticas à condução das negociações oficiais, especialmente à falta de compromisso mais firme dos países ricos com a meta de 1,5°C prevista no Acordo de Paris.

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