Caso Master: Banco Central sai fortalecido após depoimentos ao STF
Contradições em oitivas agravam situação de Daniel Vorcaro e do ex-presidente do BRB no inquérito que apura fraudes bilionárias
247 - Os depoimentos prestados no Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito do caso Master reforçaram a posição institucional do Banco Central e aprofundaram as dificuldades enfrentadas por Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, e por Paulo Henrique Costa, ex-presidente do Banco de Brasília (BRB). As oitivas, conduzidas pela Polícia Federal, terminaram com a confirmação de uma acareação entre os dois banqueiros e com a dispensa do diretor de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino, desse procedimento, relata a CNN Brasil.
Os trabalhos ocorreram ao longo da tarde e da noite de terça-feira (30), em um ambiente marcado por tensão inicial, divergências processuais e contradições nos relatos apresentados.
As oitivas começaram por volta das 14h, quando Daniel Vorcaro foi o primeiro a depor, permanecendo cerca de duas horas e meia em interrogatório. Na sequência, prestou depoimento Paulo Henrique Costa e, por último, o diretor do Banco Central. As audiências foram conduzidas pela delegada da Polícia Federal Janaína Palazzo e acompanhadas por um representante do Ministério Público Federal e por um juiz auxiliar do gabinete de Dias Toffoli.
O início dos depoimentos foi marcado por discussões sobre o rito do procedimento e sobre a possibilidade de acareação entre os envolvidos, medida que já havia sido previamente determinada pelo ministro do STF. O clima de tensão refletiu a relevância das divergências identificadas nas versões apresentadas.
As contradições entre os relatos de Vorcaro e do ex-presidente do BRB levaram a delegada responsável a optar pela realização da acareação. Ambos foram questionados, sobretudo, sobre a atuação do Banco Central no processo de liquidação do Banco Master, com foco no intervalo entre os primeiros indícios de fraude e a adoção da medida de intervenção.
Durante as oitivas, Janaína Palazzo formulou questionamentos próprios e também recebeu sugestões do gabinete do ministro Dias Toffoli. A estratégia buscou esclarecer os pontos conflitantes e aprofundar a análise sobre a conduta dos banqueiros no contexto da operação de venda do Banco Master ao BRB.
A acareação, procedimento que coloca depoentes frente a frente para esclarecer versões contraditórias, inicialmente previa a participação de Vorcaro, Paulo Henrique Costa e Ailton de Aquino. No entanto, o diretor do Banco Central foi dispensado dessa etapa final. Interlocutores do gabinete de Toffoli avaliaram que seu depoimento foi considerado esclarecedor, o que contribuiu para fortalecer a posição da autoridade monetária no caso.
O conteúdo do depoimento de Ailton de Aquino tende a agravar a situação de Vorcaro e de Paulo Henrique Costa, que acabaram participando da acareação. O procedimento durou pouco mais de 30 minutos e a sessão foi encerrada por volta das 21h30.
Os dois banqueiros são investigados por suspeitas de fraudes financeiras bilionárias envolvendo a criação de uma carteira de crédito falsa, utilizada na tentativa de venda do Banco Master ao BRB. A descoberta das irregularidades levou à deflagração de uma operação da Polícia Federal contra Vorcaro e outros aliados, além de motivar a atuação direta do Banco Central.
No fim de novembro, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master, encerrando definitivamente o processo de venda da instituição. As investigações tiveram início em 2024, após requisição do Ministério Público Federal para apurar a fabricação de carteiras de crédito consideradas insubsistentes.
Segundo as apurações, os títulos teriam sido vendidos a outra instituição financeira e, após fiscalização do Banco Central, substituídos por ativos sem avaliação técnica adequada. Em 18 de novembro, além do banco, a corretora de câmbio do grupo também teve a liquidação extrajudicial decretada, inviabilizando a operação anunciada um dia antes.
O Banco Master já vinha sendo observado com cautela pelo mercado financeiro devido a um modelo de negócios considerado arriscado, baseado na emissão de papéis garantidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) com taxas acima da média praticada no mercado.



