Caso Master: conflito entre delegada da PF e juiz auxiliar de Toffoli expõe disputa sobre estratégia de depoimentos
Janaina Palazzo disse não ter sido avisada sobre oitivas individuais e relatou orientação da PF para realizar apenas acareação
247 – A investigação que apura fatos relacionados ao Banco Master ganhou um novo capítulo de tensão interna após um desentendimento entre a delegada da Polícia Federal (PF) designada para conduzir a coleta de depoimentos e o juiz auxiliar do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF). A divergência envolveu a forma como as oitivas seriam realizadas e a condução do procedimento, incluindo a ordem dos depoimentos e a existência de perguntas previamente elaboradas para serem lidas durante as audiências.
As informações foram publicadas pelo portal Metrópoles, que detalhou o embate entre a delegada Janaina Palazzo e o juiz Carlos Vieira Adamek, auxiliar de Toffoli no STF. Segundo a reportagem, a delegada afirmou que não havia sido informada sobre a realização de depoimentos individuais e que, conforme orientação da direção da PF, deveria ocorrer apenas uma acareação reunindo os principais envolvidos.
De acordo com o relato, Janaina Palazzo sustentou que a determinação que havia chegado até ela previa exclusivamente a acareação entre o dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, o ex-presidente do Banco Regional de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, e o diretor de Fiscalização do Banco Central (BC), Ailton de Aquino. A delegada, portanto, teria sido surpreendida com a informação de que, antes disso, seriam colhidos depoimentos separados.
O juiz auxiliar, no entanto, argumentou que a orientação era outra: primeiro, deveriam ser colhidos os depoimentos individuais, e apenas depois ocorreria a acareação. Para superar o impasse, Adamek teria telefonado ao ministro Dias Toffoli, que insistiu na realização das conversas individuais antes do confronto direto entre os investigados.
Diante da divergência e da mudança no procedimento, a delegada pediu que a decisão do ministro fosse registrada em ata, como forma de formalizar a ordem recebida e assegurar que a alteração tivesse respaldo documental. A comunicação da realização dos depoimentos individuais, segundo a reportagem, foi feita pelo STF na segunda-feira (30/12), mas a PF não teria sido formalmente informada dessa mudança, já que existia apenas a decisão anterior que determinava a acareação.
Além da disputa sobre a dinâmica do procedimento, outro ponto de atrito descrito na reportagem envolveu a apresentação de perguntas elaboradas pelo próprio ministro Dias Toffoli. Conforme o texto, essas perguntas deveriam ser lidas pela delegada durante a coleta dos depoimentos, o que adicionou mais um elemento de tensão na condução dos trabalhos.
Sete horas de depoimentos e uma acareação no fim
O procedimento descrito na reportagem se estendeu por quase sete horas. Daniel Vorcaro foi o primeiro a depor e falou por cerca de três horas, enquanto Paulo Henrique Costa e Ailton de Aquino aguardavam.
Por volta das 17h30, teve início o depoimento do ex-presidente do BRB, encerrado aproximadamente duas horas depois. Em seguida, foi a vez do diretor do Banco Central, ouvido até cerca de 21h.
Somente após o encerramento das oitivas individuais ocorreu a etapa de acareação. Segundo a reportagem, ao final, Ailton de Aquino foi dispensado, e Daniel Vorcaro e Paulo Henrique Costa foram colocados frente a frente para responder conjuntamente, após a identificação de contradições entre os depoimentos prestados separadamente.
Investigação e repercussão institucional
O episódio reforça o peso institucional do caso e evidencia tensões possíveis quando há sobreposição de decisões e orientações entre diferentes instâncias do aparato de investigação e do Judiciário. A condução das oitivas — especialmente quando envolve a definição de formato, ordem e conteúdo das perguntas — tende a ser um dos momentos mais sensíveis em apurações de alto impacto, pois qualquer ruído pode gerar controvérsia sobre o procedimento e suas garantias formais.
Com a formalização do rito adotado e o registro da decisão em ata, a tendência é que os próximos passos do caso ocorram sob maior rigor documental, justamente para reduzir disputas sobre o que foi determinado e por quem. O foco agora se volta para o conteúdo das contradições apontadas e para o que pode emergir a partir do confronto direto entre os depoentes, etapa considerada crucial em investigações que envolvem versões conflitantes.



