“Empresas públicas devem impulsionar a diversidade”, diz Mercadante
Presidente do BNDES defende inclusão, ações afirmativas e critica retrocessos em políticas de cotas no Brasil
247 - As empresas públicas brasileiras têm uma responsabilidade ampliada na promoção da diversidade, da inclusão e da igualdade social. A avaliação foi feita pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, durante a abertura do seminário “Democracia e Direitos Humanos: Empresas Juntas por um Brasil Mais Igualitário”, realizado nesta segunda-feira, 15 de dezembro, na sede da instituição, no Rio de Janeiro.
De acordo com informações divulgadas pelo próprio BNDES, Mercadante afirmou que são as empresas estatais que possuem maior capacidade de ampliar e disseminar boas práticas nesse campo. “São elas que podem escalar as boas práticas e conseguir impulsionar essa agenda de diversidade, inclusão, igualdade a partir de boas práticas, começando pelo ambiente de trabalho”, declarou.
No discurso, o presidente do Banco destacou mudanças internas implementadas nos últimos anos, com a criação de comissões voltadas à promoção dos direitos humanos — estruturas que não existiam anteriormente na instituição. Entre elas, estão as comissões de mulheres, raça e etnia, pessoas com deficiência, LGBTQIABN+ e de prevenção e combate ao assédio e à discriminação. Segundo Mercadante, a iniciativa busca consolidar um diálogo permanente e dar maior visibilidade ao tema dentro do BNDES. “Temos procurado construir um diálogo permanente e dar visibilidade a essa agenda dentro da instituição”, explicou.
Outro ponto ressaltado foi a realização de concurso público após um intervalo de 11 anos. O processo seletivo foi reconhecido em 2025 com o primeiro lugar na categoria Recrutamento e Seleção entre as Melhores Empresas e Líderes da Diversidade, por estabelecer reserva de 30% das vagas para pessoas negras e 10% para pessoas com deficiência. “O BNDES, como banco público, tem que refletir a diversidade da sociedade”, afirmou Mercadante.
Durante o evento, o presidente apresentou dois novos servidores aprovados no concurso: Tiago Coutinho, arquiteto negro que obteve o primeiro lugar geral fora do sistema de cotas, e Akintolá Assis, advogado negro cujo pai atuou como operário na construção da sede do Banco no Rio de Janeiro.
Os dados apresentados indicam avanços significativos no perfil do quadro funcional. Antes do concurso, pessoas negras representavam 14% do corpo profissional; em 2025, esse percentual chegou a 25% e deve ultrapassar os 30% com a posse dos novos servidores. Na alta liderança, a presença feminina passou de 13% para 37%, enquanto na média liderança — chefias de departamento — o índice subiu de 19% para 34%. Já a participação de pessoas com deficiência aumentou de 1,5% para 4%.
Ao abordar sua trajetória como ministro da Educação, em 2012, Mercadante relembrou a defesa da política de cotas como instrumento de transformação social, em parceria com a atual ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo. “Nós mudamos a história da universidade”, afirmou. “Diziam que isso ia gerar violência nas universidades e que estava violando o princípio da meritocracia. Me desculpe. Pesquisas acadêmicas disponíveis mostram que entre cotistas e não cotistas não há diferença alguma no resultado da formação”, completou.
O presidente do BNDES também criticou a decisão da Assembleia Legislativa de Santa Catarina que aprovou proposta proibindo universidades de adotar cotas e outras ações afirmativas para ingresso de estudantes e contratação de profissionais. Para ele, a medida representa um retrocesso. “É inaceitável esse tipo de retrocesso num país como o Brasil. Nós queremos respeito à diversidade e às ações afirmativas, que são um princípio fundamental da construção de uma sociedade mais generosa, mais igualitária, que reconheça os direitos de povos originários, especialmente o desafio da igualdade racial”, disse. “O que nós precisamos é criar oportunidades. É assim que nós vamos combater a desigualdade desse país e mudar a história”, concluiu.



