HOME > Brasil

Messias indica votos conservadores sobre aborto e drogas no STF

Indicado por Lula para o STF, Jorge Messias também tem sinalizado a senadores apoio às emendas parlamentares

Jorge Messias (Foto: Andressa Anholete/Agência Senado)

247 - O indicado do presidente Lula (PT) ao Supremo Tribunal Federal (STF), Jorge Messias, tem adotado um discurso alinhado a valores conservadores em temas como aborto e drogas durante encontros com senadores, segundo a Folha de São Paulo. A estratégia busca suavizar resistências e garantir os votos necessários para sua aprovação.

Messias, em reuniões reservadas, também tem demonstrado concordância com a continuidade das emendas parlamentares, recurso central para repasses federais a obras nos redutos eleitorais de congressistas. O gesto tem sido interpretado como uma tentativa de reduzir tensões com setores do Senado que veem com preocupação possíveis mudanças no controle desse mecanismo caso o indicado seja confirmado.

Messias, que precisa de pelo menos 41 votos no plenário, ainda deverá passar pela sabatina na Comissão de Constituição e Justiça, adiada após o Planalto não encaminhar a documentação exigida. O atraso acentuou o clima de desconfiança, ampliado por temores de que o postulante possa reproduzir posicionamentos do ministro Flávio Dino, alvo de críticas por decisões consideradas restritivas ao pagamento de emendas.

Segundo parlamentares que conversaram com Messias, o advogado tem afirmado rejeitar qualquer flexibilização nas legislações sobre aborto e drogas, o que agrada à ala mais conservadora do Congresso. Evangélico, Messias tenta se afastar da ideia de que atuaria para criminalizar a política caso assuma a vaga na corte — interpretação que, para congressistas, sinaliza que ele não pretende confrontar o uso das emendas parlamentares.

O debate ganhou vulto após recente decisão do STF, que fixou em 40 gramas a quantidade mínima de maconha para diferenciar usuários de traficantes e consolidou maioria pela descriminalização do porte para uso pessoal. A reação no Legislativo foi intensa, com acusações de usurpação de competência, o que tornou a postura de Messias ainda mais observada.

Durante conversas com senadores, Messias também se posicionou como desenvolvimentista, afirmando não ser favorável à paralisação de obras públicas por decisões judiciais, muitas vezes ligadas a exigências ambientais. Em relação à mineração em terras indígenas, admitiu a possibilidade de atividade econômica, desde que haja consulta às comunidades afetadas.

A ausência de manifestações públicas do ministro Flávio Dino sobre sua indicação tem sido vista por aliados como benéfica, diante da tentativa de setores da oposição de associar Messias à imagem do ministro — hoje um dos menos populares entre congressistas.

Paralelamente, apoiadores do indicado têm defendido que sua rejeição poderia levar Lula a indicar alguém mais à esquerda e de perfil considerado mais difícil de barrar, como uma mulher negra com posições progressistas marcadas, o que colocaria os senadores em um dilema político mais custoso.

A disputa interna no Senado também pesa. A opção de Lula por Messias contrariou parte da Casa, especialmente o presidente Davi Alcolumbre, que defendia a escolha do senador Rodrigo Pacheco. O episódio estremecendo a relação entre o Executivo e a Casa legislativa que mais apoiou o governo no atual mandato.

Após o adiamento da sabatina, Messias intensificou sua articulação. Na terça-feira (2), participou de um jantar com senadores evangélicos, ministros do STF e outros políticos. No dia seguinte, conversou com Beto Faro, Nelsinho Trad e integrantes da bancada feminina, reafirmando compromisso com o enfrentamento ao feminicídio. Em rápido comentário à imprensa nos corredores do Senado, afirmou: "Continuo meu trabalho da mesma forma".

Enquanto o Planalto tenta recompor pontes com Alcolumbre, Messias segue mobilizando apoios num ambiente que permanece imprevisível para sua aprovação.

Artigos Relacionados