Tarcísio tenta articulação no STF para salvar Bolsonaro da Papuda
Sob pressão do clã Bolsonaro, governador de SP tenta diálogo com a Corte para manter prisão domiciliar do ex-presidente
247 - O governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) intensificou articulações reservadas em Brasília para convencer ministros do STF a manter Jair Bolsonaro (PL) em prisão domiciliar e impedir sua transferência para o presídio da Papuda, após o trânsito em julgado da condenação por liderar a tentativa de golpe de Estado.
A movimentação, revelada pela Folha de S.Paulo, ocorre sob forte pressão de aliados bolsonaristas, que cobram ações diretas junto à corte e manifestações públicas mais contundentes em defesa do ex-presidente, sentenciado a 27 anos e 3 meses.
O governador age longe dos holofotes para evitar desgastes adicionais. Interlocutores de Tarcísio afirmam que ele repete, em conversas reservadas, que “opera melhor quem trabalha em silêncio”, restringindo a poucas pessoas o conhecimento de suas iniciativas.
Apesar de, no 7 de Setembro, ter chamado o ministro Alexandre de Moraes de “ditador” durante manifestação bolsonarista na avenida Paulista, aliados do ex-presidente avaliam que o mal-estar com o Supremo já teria sido superado e que Tarcísio mantém algum grau de influência na corte.
A movimentação atual ocorre meses depois de uma operação malsucedida. Em julho, após visitar Bolsonaro, Tarcísio telefonou a ministros do STF e, segundo relatos de integrantes da corte citados pela Folha, teria pedido a devolução do passaporte do ex-presidente, sob a justificativa de que ele poderia interceder junto a Donald Trump, o atual presidente dos Estados Unidos, na crise das sobretaxas aplicadas ao Brasil. Os magistrados consideraram a proposta descabida. O governador, porém, nega ter solicitado o documento e sustenta que a conversa teria sido apenas uma avaliação sobre possíveis saídas diplomáticas.
No fim de semana, um artigo de Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação da Presidência, reacendeu o debate interno. No texto publicado pela Folha, Wajngarten afirmou que a prisão de Bolsonaro “é injustiça que corrói”. A frase repercutiu entre bolsonaristas, que criticaram a ausência de uma defesa pública semelhante por parte de Tarcísio.
Outro ponto de desgaste foi uma postagem recente do governador nas redes sociais afirmando que o Brasil precisa “trocar o CEO”, em referência a Lula (PT). Para uma ala do bolsonarismo, a fala reforça a percepção de que o governador prepara o terreno para disputar a Presidência, embora oficialmente seja pré-candidato à reeleição em São Paulo.
Aliados de Bolsonaro insistem que, além do debate jurídico, pesa a condição de saúde do ex-presidente. Aos 70 anos, ele enfrenta crises recorrentes de soluço decorrentes das cirurgias realizadas após o atentado sofrido em 2018, quadro que, segundo apoiadores, exige cuidados especiais incompatíveis com o sistema prisional.
O cenário ganhou novo capítulo nesta terça-feira (18), quando o STF publicou o acórdão que rejeitou o primeiro recurso da defesa, abrindo prazo para a apresentação de um novo questionamento. Caberá ao relator Alexandre de Moraes determinar o local em que Bolsonaro cumprirá pena.
A Papuda, destino provável em caso de prisão em regime fechado, enfrenta superlotação: a ala destinada a idosos tem capacidade para 177 detentos, mas abriga 340, conforme relatório da Defensoria Pública do Distrito Federal divulgado pela Folha. A equipe de Moraes, porém, analisa outras possibilidades dentro do complexo, como o PDF 1 — que acolhe presos considerados vulneráveis e já recebeu políticos no passado — e o 19º Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal, conhecido como “Papudinha”, localizado em frente ao presídio principal.



