Trabalho, renda e políticas públicas impulsionam queda histórica da pobreza no Brasil
Combinação de emprego, proteção social e justiça tributária leva milhões a sair da pobreza e recoloca o país no caminho da segurança alimentar
247 - O Brasil atravessa um período de forte redução da pobreza, da desigualdade e da fome, resultado de uma estratégia que vai além da ampliação de transferências de renda. A atuação recente do Estado passou a articular proteção social, valorização do trabalho, crescimento da renda real e justiça tributária, produzindo impactos concretos tanto nos indicadores oficiais quanto no cotidiano de milhões de famílias.
Segundo reportagem publicada pela Agência Gov, a reconstrução das políticas sociais e a retomada do protagonismo estatal no enfrentamento das desigualdades foram decisivas para esse avanço. A orientação política do governo tem sido combinar programas de transferência de renda com geração de empregos, valorização do salário mínimo, controle da inflação e políticas estruturantes de desenvolvimento social.
Essa diretriz é frequentemente sintetizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que afirma: “Eu governo para todo mundo, mas tenho preferência pelo povo mais necessitado, que é quem precisa do Estado. Voltei a ser presidente porque tenho um compromisso de fé de ajudar o povo pobre brasileiro”. A lógica orienta ações que integram apoio direto às famílias com estímulos ao mercado de trabalho e à renda do trabalho, criando uma nova dinâmica social e econômica no país.
Indicadores mostram avanço consistente
Dados da Síntese de Indicadores Sociais (SIS), do IBGE, revelam que entre 2023 e 2024 cerca de 8,6 milhões de pessoas deixaram a condição de pobreza no Brasil, considerando a linha de US$ 6,85 por dia. No mesmo intervalo, 1,9 milhão de brasileiros saiu da extrema pobreza. A proporção da população abaixo da linha da pobreza recuou de 27,3% para 23,1%, o menor patamar desde o início da série histórica, em 2012. Já a extrema pobreza caiu de 4,4% para 3,5%, também um recorde.
A desigualdade acompanhou esse movimento. O índice de Gini chegou a 0,504 em 2024, o menor nível desde 2012. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em novembro de 2025, reforça o cenário ao indicar que a renda domiciliar per capita cresceu mais de 25% em termos reais entre 2021 e 2024, impulsionada pela expansão do emprego, pela reconstrução das políticas sociais e pelo controle inflacionário.
Proteção social como base de mobilidade
A reestruturação do Bolsa Família, a partir de 2023, teve papel central nesse processo. O programa voltou a funcionar como uma rede de proteção capaz de garantir condições mínimas sem romper o vínculo das famílias com o trabalho, a educação e a saúde. Estudo do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), em parceria com a Fundação Getulio Vargas, mostrou que 70% dos adolescentes que viviam em famílias beneficiárias em 2014 deixaram o programa ao longo de dez anos, sinalizando mobilidade social.
Na apresentação dos dados, em dezembro de 2025, o ministro Wellington Dias destacou a função estruturante da política pública. “As gerações de filhos e filhas de pais que dependiam do Bolsa Família estão saindo da pobreza. O programa garante o básico para que essas famílias consigam estudar, trabalhar e crescer”, afirmou.
Histórias que refletem os números
Os indicadores nacionais se traduzem em trajetórias concretas. No município de Careiro da Várzea, no Amazonas, Dayane Carvalho, de 30 anos, foi beneficiária do Bolsa Família por quase uma década. Hoje, atua como técnica de enfermagem em uma unidade básica de saúde após concluir sua formação. “Hoje me sinto feliz e grata pelo Bolsa Família ter feito parte da minha vida. Foi através dele que consegui arcar com os custos da minha família, com meus filhos, e hoje consegui a independência”, relatou.
Na mesma cidade, Priscila Taveira, de 31 anos, também deixou o programa após cerca de dez anos e ingressou no mercado de trabalho. Atualmente, atende famílias em situação de vulnerabilidade na Casa da Cidadania. “O Bolsa Família foi essencial na minha vida. Me ajudou até que eu conseguisse o emprego. Hoje trabalho na Casa da Cidadania com vários tipos de atendimento. É motivo de orgulho ter chegado aqui”, disse.
No Distrito Federal, Jaqueline Souza, de 38 anos, pediu o desligamento voluntário do programa ao conquistar um emprego formal. Funcionária de uma empresa prestadora de serviços para a Fundação Oswaldo Cruz, ela trabalha com carteira assinada na organização de eventos públicos na área da saúde. “Estou aqui hoje trabalhando com uma equipe maravilhosa, um trabalho excelente, que eu amo. A tendência agora é trabalhar mais, se capacitar mais, estudar mais ainda, para a gente dar continuidade e servir como exemplo para os nossos filhos e para o nosso país”, afirmou.
Emprego, salário e crédito
A queda da pobreza também está diretamente ligada ao desempenho do mercado de trabalho. Desde 2023, foram criados mais de 4,9 milhões de empregos formais no país. O desemprego atingiu 5,4% no trimestre encerrado em outubro de 2025, o menor nível da série histórica. A política de valorização do salário mínimo, com ganho real acima da inflação, ampliou o poder de compra das famílias.
Ao comentar os dados, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, resumiu o impacto: “O trabalhador voltou a ter previsibilidade, salário valorizado e emprego. Isso muda a vida das pessoas”. A retomada do crédito popular, por meio do Programa Desenrola, também foi relevante ao retirar cerca de 6 milhões de pessoas do endividamento extremo, permitindo reorganização financeira e retomada do consumo.
Menos fome e mais segurança alimentar
Os avanços alcançaram o combate à fome. Dados da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia) indicam que a insegurança alimentar grave caiu de 4,1% para 3,2% dos domicílios entre 2023 e 2024, o menor patamar desde 2013. Em coletiva realizada em outubro, a secretária extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome, Valéria Burity, atribuiu os resultados a uma estratégia integrada. “Isso é resultado de uma política que alia crescimento econômico, apoio à produção de alimentos, controle da inflação, aumento do emprego e valorização do salário mínimo”, afirmou.
Reflexos internacionais
A política interna também reposicionou o Brasil no cenário global. Em entrevista concedida em outubro de 2025, o ministro Wellington Dias destacou que a saída do país do Mapa da Fome decorre da retomada de políticas permanentes. “O objetivo é que a fome nunca mais volte ao mapa do Brasil. Isso se faz com políticas permanentes, não com ações pontuais”, declarou.
Esse alinhamento levou o Brasil a assumir protagonismo internacional, com a liderança na criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza no âmbito do G20 e a inclusão da justiça tributária, com foco na tributação dos super-ricos, na declaração final do grupo.



