Ministério aciona órgãos de controle para investigar operações do Rioprevidência com o Master
Pasta vê indícios de irregularidades em transações com títulos públicos e alerta para possíveis conflitos de interesse
247 - O Ministério da Previdência Social encaminhou a diversos órgãos de fiscalização um pedido de investigação sobre operações consideradas atípicas envolvendo o Rioprevidência e instituições ligadas ao grupo Master. As movimentações chamaram a atenção da pasta pela complexidade e pelo impacto sobre os investimentos do fundo estadual.
No relatório preliminar, produzido em 24 de novembro e citado pela Folha de S. Paulo, técnicos do ministério apontam indícios de uso de informação privilegiada, além de uma concentração incomum de recursos do Rioprevidência em produtos financeiros controlados pela Master Corretora, empresa ligada ao grupo de Daniel Vorcaro — preso recentemente pela Polícia Federal.
As suspeitas levaram a Previdência a acionar a Polícia Federal, o Banco Central, a Comissão de Valores Mobiliários e o Tribunal de Contas do Rio de Janeiro para aprofundar a apuração e verificar eventuais ilícitos administrativos e penais.
Operações que levantaram suspeitas
De acordo com o relatório, a exposição total do Rioprevidência ao conglomerado Master chega a R$ 2,9 bilhões. Desse montante, R$ 970 milhões estão em letras financeiras do próprio Banco Master. Outros R$ 1,32 bilhão foram aplicados entre janeiro e setembro de 2025 no fundo exclusivo Arena, gerido pela Arena Capital e administrado pela Master Corretora. Há ainda R$ 641,5 milhões distribuídos em outros três fundos sob a administração da mesma corretora.
A nota técnica destaca operações repetidas de compra e venda de títulos públicos em intervalos curtos, tanto na carteira própria do Rioprevidência quanto no fundo Arena. Segundo o documento, essas movimentações — muitas vezes sem impacto financeiro líquido relevante — elevaram custos de transação e reduziram a rentabilidade, contrariando princípios de uma gestão previdenciária com horizonte de longo prazo.
Entre dezembro de 2024 e setembro de 2025, o Rioprevidência negociou R$ 1,95 bilhão em títulos públicos, praticamente girando toda a carteira. Para os técnicos, a estratégia “carece de racionalidade econômica”.
Fundos exclusivos e desempenho questionado
O desempenho do fundo Arena também se tornou ponto de alerta. O relatório aponta retorno acumulado de apenas 2,03% entre dezembro de 2024 e outubro de 2025, período em que o CDI avançou 12,10%. Para a equipe técnica, a performance é incompatível com o risco do produto.
O Rioprevidência rebate, afirmando que o fundo rendeu 126% do CDI no primeiro semestre e 70% do CDI no acumulado do ano. A instituição acusa o ministério de “falsa comunicação”.
A Arena Capital, gestora do fundo, afirma que não houve prejuízo efetivo para os cotistas. Segundo a nota enviada, “as oscilações observadas refletem apenas movimentações de mercado de caráter temporário, compatíveis com a natureza dos ativos e com a estratégia adotada pelo fundo”.
Possível conflito de interesse e risco de "front running"
O ministério destaca ainda que o regulamento do fundo Arena permite operações em que a própria Arena Capital ou a Master Corretora atuam como contraparte das transações. Para os técnicos, esse dispositivo já justificaria investigação por potencial conflito de interesse.
O relatório cita inclusive um episódio em que o Rioprevidência vendeu 30 mil títulos públicos atrelados à inflação por preço inferior ao de mercado. Um minuto depois, o mesmo lote foi repassado por valor 4,6% maior. Segundo o documento, a contraparte poderia ter lucrado mais de R$ 520 mil em segundos, com risco praticamente nulo, levantando suspeita de “front running” — prática que envolve o uso de informação privilegiada para antecipar operações.
A Arena Capital nega qualquer irregularidade e afirma seguir rigorosamente as normas dos órgãos reguladores. O Rioprevidência, por sua vez, sustenta que o fundo Arena investe exclusivamente em títulos públicos federais, rejeitando a vinculação com ativos do Master.
Reação do Rioprevidência
Em posicionamento enviado à Folha, o Rioprevidência classificou como “inverídicas e despidas de qualquer fundamento contratual” as conclusões do ministério e afirmou que buscará responsabilização dos autores do relatório. A autarquia também criticou o fato de a Previdência manter o Master na lista de instituições elegíveis para administrar fundos, mesmo após a liquidação decretada pelo Banco Central.
A instituição diz que pedirá acesso ao relatório para entender por que não foi alertada previamente sobre supostas restrições envolvendo o grupo Master.
Outras frentes de apuração
A relação entre o Rioprevidência e o Banco Master também é analisada pelo Tribunal de Contas do Estado, que afirmou em outubro que o fundo ignorou alertas sobre riscos nas operações e continuou a aportar recursos em produtos ligados ao conglomerado. O TCE determinou a suspensão desses investimentos.
No último dia 18, o Banco Central decretou a liquidação do Banco Master. Daniel Vorcaro, controlador da instituição, foi detido pela Polícia Federal na véspera, em São Paulo, quando tentava deixar o país.



