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Navios com petróleo russo ficam parados no mar após sanções dos EUA

Medidas impostas por Washington provocam atrasos inéditos, rotas alternativas e aumento de cargas sem destino declarado

Terminal de petróleo de Kozmino na costa da Baía de Nakhodka, perto da cidade portuária de Nakhodka, Rússia - 12/08/2022 (Foto: REUTERS/Tatiana Meel)

247 - A intensificação das sanções impostas pelos Estados Unidos tem provocado um gargalo significativo no transporte marítimo de petróleo russo. Nas últimas semanas, petroleiros carregados com barris destinados principalmente à Ásia passaram a enfrentar atrasos prolongados, mudanças de rota e dificuldades para atracar.

De acordo com dados divulgados pela Bloomberg, o volume de petróleo russo parado no mar já ultrapassa 180 milhões de barris — um salto de 21% nos últimos três meses. A publicação destaca que o impacto das ações norte-americanas tem sido determinante para o aumento das cargas que permanecem por longos períodos sem descarregar.

O prolongamento das viagens tornou-se especialmente evidente nas rotas do petróleo ESPO, enviado do porto de Kozmino, no Pacífico, para a China. A duração média dos trajetos de navios carregados em novembro superou 12 dias, bem acima da média de pouco mais de oito registrada em agosto. Esse cenário tem levado embarcações a permanecer ociosas e, em alguns casos, a contornar regiões tradicionalmente mais vigiadas.

Pelo menos dois navios transportando petróleo Urals optaram por seguir pela rota mais longa, contornando o Cabo da Boa Esperança rumo à Ásia, evitando a passagem pelo Mar Vermelho. Outros desviaram de portos na costa oeste da Índia, prolongando ainda mais o tempo de permanência no mar. Há relatos de petroleiros aguardando semanas para descarregar em portos chineses, incluindo um navio com ESPO parado há mais de 20 dias.

O aumento das cargas no mar ocorreu justamente no período em que os fluxos marítimos de petróleo da Rússia voltaram a subir pela primeira vez em seis semanas. Segundo o levantamento, Moscou embarcou 3,46 milhões de barris por dia nas quatro semanas até 30 de novembro — cerca de 210 mil barris a mais do que no período anterior. O avanço, porém, coincidiu com a nona queda consecutiva nos preços internacionais do petróleo, mantendo o valor das exportações russas em seu patamar mais baixo desde janeiro de 2023.

As sanções anunciadas por Washington em outubro miraram diretamente gigantes como Rosneft e Lukoil, ampliando os obstáculos logísticos enfrentados pelo país. Ao mesmo tempo, navios ligados à Rússia sofreram ataques no Mar Negro atribuídos à Ucrânia, que também atingiu uma das boias do terminal de exportação do CPC, perto de Novorossiysk. Até o momento, os ataques não interromperam o fluxo da região.

Na semana encerrada em 30 de novembro, os embarques russos saltaram para 3,94 milhões de barris por dia — maior nível em quase três meses — impulsionados ainda por carregamentos de petróleo cazaque KEBCO, que não estão sujeitos às restrições ocidentais. No Pacífico, Kozmino recuperou ritmo, enquanto o terminal Sakhalin 1, em De Kastri, manteve atividade reduzida. Já Murmansk e os portos do Báltico e do Mar Negro registraram retomada dos volumes.

No entanto, apesar da alta nos embarques, os preços seguem em queda. Dados da Argus Media mostram recuos que vão de US$ 1,90 a US$ 3,60 por barril, dependendo da região de origem. Na Índia, o valor médio caiu para US$ 58,66 por barril, o menor nível desde março de 2023.

Outro fator que tem chamado atenção é o aumento expressivo de navios que deixam de informar o destino final. Nos 28 dias até 30 de novembro, embarques com destino não declarado chegaram a 1,47 milhão de barris por dia — superando, pela primeira vez, o volume diretamente indicado para China, Índia ou Turquia. Do total, 1,42 milhão de barris partiram de portos russos rumo ao Canal de Suez ou viajaram pelo Pacífico sem ponto de entrega registrado.

Historicamente, essas cargas acabam desembarcando em portos indianos ou chineses, mas o avanço das sanções americanas pode alterar essa lógica. As incertezas, segundo os dados, têm levado petroleiros a desligar sistemas de rastreamento ou recorrer a práticas de spoofing para mascarar transferências de carga consideradas clandestinas.

Os fluxos para a Turquia tiveram leve alta, para cerca de 170 mil barris por dia, enquanto os embarques para a Síria permaneceram zerados. Conforme o padrão recente, navios destinados ao porto sírio de Baniyas geralmente “desaparecem” dos sistemas de localização ao sul de Creta, tornando imprecisa a estimativa das entregas até a chegada ao Mediterrâneo Oriental.

Todos os números apresentados excluem as cargas cazaques KEBCO, renomeadas após o início da guerra na Ucrânia para diferenciar os embarques não submetidos às sanções. 

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