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China acusa Sanae Takaichi de cruzar linha vermelha ao falar sobre intervenção em Taiwan

Wang Yi afirma que Japão revive militarismo e envia sinal perigoso, segundo reportagem do Global Times

Wang Yi (Foto: fmprc.gov.cn)

247 – A China elevou o tom contra o governo japonês após declarações da primeira-ministra Sanae Takaichi sobre uma possível intervenção militar em Taiwan. O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, afirmou que o Japão ultrapassou limites inaceitáveis e precisa “refletir e corrigir seus erros”. As falas foram divulgadas inicialmente pela agência Xinhua e repercutidas pelo jornal Global Times, que trouxe detalhes da reação chinesa.

Wang destacou que, caso o Japão insista no mesmo caminho, países e povos que defendem a justiça têm o direito de reexaminar os crimes históricos japoneses e impedir qualquer tentativa de ressurgimento do militarismo. Ele também demonstrou surpresa com a postura da primeira-ministra. Segundo afirmou, “é chocante que um líder japonês em exercício envie um sinal errado ao tentar intervir militarmente na questão de Taiwan — dizendo o que não deve ser dito e cruzando uma linha vermelha que não pode ser tocada”. O chanceler declarou que a China responderá de maneira resoluta não apenas para proteger a própria soberania, mas para preservar as conquistas do pós-guerra, alcançadas “com sangue e sacrifício”.

Durante conversa estratégica no Tajiquistão com o ministro Sirojiddin Muhriddin, Wang reiterou que a China jamais permitirá que grupos de extrema direita no Japão façam “a roda da história girar para trás”. Ele afirmou também que Pequim não aceitará interferência externa em Taiwan, considerada parte inegociável de seu território.

A crise teve início após Takaichi declarar, em 7 de novembro, durante sessão no Parlamento japonês, que um “contingenciamento de Taiwan” poderia representar uma “situação de ameaça à sobrevivência” do Japão. A primeira-ministra se recusou a retirar a afirmação, que sugere a possibilidade de intervenção armada no Estreito de Taiwan. O governo chinês reagiu imediatamente e diferentes ministérios alertaram que haverá uma “resposta resoluta” se Takaichi insistir em interferir na questão.

Lu Hao, chefe da Seção de Estratégia do Instituto de Estudos Japoneses da Academia Chinesa de Ciências Sociais, afirmou ao Global Times que toda a responsabilidade pela deterioração das relações entre China e Japão recai exclusivamente sobre Takaichi. Para ele, a China está aberta ao diálogo, mas não aceitará “comunicações sem sentido” com quem provoca seus interesses centrais.

O episódio repercutiu também dentro do Japão. Yoshihiko Noda, líder do Partido Democrático Constitucional, principal força de oposição, declarou que Takaichi deveria agir para corrigir os danos criados em sua relação com a China. Ele afirmou que “à primeira vista, tudo decorre das ações imprudentes da Primeira-Ministra” e que ela precisa explicar suas intenções de forma contínua.

Para analistas chineses, as falas de Takaichi não se limitam ao contexto bilateral. Da Zhigang, da Academia Provincial de Ciências Sociais de Heilongjiang, afirmou que o caso ultrapassa a disputa entre China e Japão e ganhou dimensão internacional, por representar um alerta global contra o retorno do militarismo e do unilateralismo.

A gravidade da situação levou o embaixador da China na ONU, Fu Cong, a enviar uma carta ao secretário-geral António Guterres. O documento afirma que as declarações de Takaichi representam a primeira vez, desde a rendição japonesa em 1945, que um líder do país fala oficialmente sobre cenários envolvendo Taiwan, vinculando o tema à defesa coletiva. A carta reforça que essa foi também a primeira ameaça militar direta do Japão contra a China desde o fim da Segunda Guerra Mundial e considera a postura da primeira-ministra “extremamente errônea, altamente perigosa e maliciosa”. O texto será distribuído a todos os Estados-membros da ONU como documento oficial da Assembleia Geral.

Em entrevista à emissora japonesa ABEMA, o ex-primeiro-ministro Shigeru Ishiba lembrou que, em 1972, Kakuei Tanaka conseguiu restabelecer as relações diplomáticas com Pequim e que, desde então, todos os governos lidaram com a China “com extremo cuidado”. Ishiba afirmou que diplomacia “não é sobre dizer tudo o que se quer dizer” nem deve ser usada como ferramenta para elevar popularidade.

Especialistas chineses insistem que, para o diálogo ser retomado de forma concreta, o Japão precisa abandonar ações consideradas provocativas, respeitar os interesses centrais da China e lidar com questões históricas de forma responsável. Lu Hao completou que Takaichi não pode afirmar que deseja uma “relação estrategicamente benéfica” enquanto continua a tratar a China como “maior desafio de segurança” e adotar medidas que ferem os interesses chineses e os sentimentos de seu povo.

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