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Estadão vê 'imprudência' de Toffoli e diz que ele deveria ter pago sua passagem

Editorial critica viagem em jatinho com advogado do caso Banco Master e defende que Toffoli se afaste da relatoria

Dias Toffoli (Foto: Carlos Moura/SCO/STF)

247 - O jornal O Estado de São Paulo divulgou um editorial em que critica duramente a conduta do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), por ter viajado em um jatinho privado ao lado do advogado Augusto de Arruda Botelho para assistir à final da Libertadores, em Lima, no Peru. O texto afirma que a situação expõe fragilidades na postura esperada de um integrante da Corte em questões que possam afetar sua imagem pública.

O editorial destaca que “a prudência já impunha a Toffoli a compostura esperada de um ministro da mais alta Corte do País, evitando situações que pudessem suscitar dúvidas sobre sua independência”.

A análise publicada pelo jornal considera inadequado que o ministro tenha aceitado viajar em aeronave privada ao lado de um advogado diretamente envolvido em processo sensível, posteriormente sorteado para sua relatoria. “É legítimo questionar, portanto, por que Toffoli não custeou com recursos próprios uma viagem de caráter pessoal para assistir a um jogo de futebol, optando por aceitar carona num avião de um empresário junto com um advogado diretamente interessado no desfecho de um processo que poderia ficar sob sua alçada – como ficou”.

Segundo o editorial, a atitude transmite um sinal de descuido diante do escrutínio público e abre margem para suspeitas quanto à isenção do ministro em decisões futuras envolvendo o Banco Master, seu controlador Daniel Vorcaro e o executivo Luiz Antonio Bull, cliente do advogado que embarcou no mesmo voo. O jornal afirma que, para magistrados, a aparência de imparcialidade é tão essencial quanto a conduta ética: “Aos magistrados não basta cumprir as leis e se comportar de acordo com os mais elevados padrões éticos – é preciso parecer que assim procedem”.

O texto também contextualiza decisões recentes de Toffoli, lembrando que ele assumiu para seu gabinete a condução das investigações sobre o caso Master, alegando conexão com uma transação imobiliária entre o deputado João Carlos Bacelar (PL-BA) e Vorcaro. Para o Estadão, “não há, contudo, nexo causal capaz de justificar o deslocamento da investigação para o foro do Supremo”.

A narrativa do editorial reforça a gravidade da coincidência temporal entre a viagem e o andamento do processo. O jornal registra que “no dia 28 de novembro, Toffoli e Botelho deixaram São Paulo rumo a Lima por volta das 10h da manhã. Poucas horas depois, a reclamação que pedia o deslocamento de competência foi protocolada [...] No final daquela mesma tarde, Toffoli foi sorteado relator”. O texto acrescenta que, apesar disso, não se sugere conluio, mas sim a imprudência de um magistrado que deveria evitar situações dúbias.

O Estado de São Paulo afirma que Toffoli tem todo o direito de viajar, manter amizades e torcer por seu time, mas lembra que, como ministro do STF, não pode ignorar os impactos institucionais de seus atos. Por isso, o editorial sustenta que o episódio poderia ter sido evitado: “Toffoli poderia ter evitado tudo isso com uma conduta simples e republicana: viajar por conta própria, sem trazer para sua esfera privada alguém que depende de suas decisões como juiz para obter êxito profissional e financeiro”.

Diante do cenário, o jornal conclui que a permanência de Toffoli na relatoria do caso Master compromete a percepção pública de imparcialidade do Supremo e defende seu afastamento. O editorial encerra afirmando que essa medida se impõe “como respeito à dignidade da magistratura, à Corte e ao País”.

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