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Globo dispara novamente contra o STF e cobra de Toffoli transparência sobre o caso Master

Editorial aponta falta de explicações do Supremo sobre suspeitas envolvendo Alexandre de Moraes e pressiona pela derrubada do sigilo imposto pelo relator

Dias Toffoli (Foto: Rosinei Coutinho/STF)

247 – O jornal O Globo voltou a disparar contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e cobrou providências imediatas do ministro Dias Toffoli no caso envolvendo o Banco Master, apontado como um dos episódios mais rumorosos a chegar à Corte nos últimos tempos. Em editorial publicado nesta quarta-feira, o jornal sustenta que o STF tem falhado em dois requisitos considerados essenciais para o funcionamento pleno das instituições republicanas: transparência e prestação regular de contas à sociedade.

O texto destaca que, diante das revelações feitas por colunistas do próprio GLOBO, a postura inicial do Supremo foi marcada por silêncio prolongado e explicações tardias. Para o jornal, é “constrangedor” que a Corte tenha levado semanas para se manifestar sobre o caso e ainda mantenha o processo sob sigilo, apesar da gravidade das suspeitas levantadas.

Segundo o editorial, a crise se intensificou após a colunista Malu Gaspar revelar, no dia 9 deste mês, que o escritório de Viviane de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes, mantinha contrato com o Banco Master pelo qual receberia R$ 3,6 milhões mensais, durante três anos, para defender os interesses do banco junto a diversos órgãos públicos — entre eles Cade, Receita Federal e Banco Central (BC). A informação provocou estranhamento, mas, conforme relata o jornal, Moraes e o STF permaneceram em silêncio por duas semanas.

Ainda de acordo com o texto, uma nova reportagem de Malu Gaspar apontou que Alexandre de Moraes manteve contatos telefônicos e realizou uma reunião presencial com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. Conforme o relato atribuído a seis fontes ouvidas pela colunista, Moraes teria feito pressão em favor do Banco Master. O Banco Central respondeu em 24 horas com uma nota breve confirmando as reuniões, mas alegando que nelas se discutiram os efeitos da chamada Lei Magnitsky — instrumento que foi sido usado pelos Estados Unidos em julho para impor sanções ao ministro. A liquidação do Banco Master, por sua vez, ocorreu em 18 de novembro.

O editorial afirma que o STF também levou 24 horas para se manifestar e que sua reação foi igualmente insuficiente. O jornal relata que a Corte enviou uma nota sumária a jornalistas, sem publicá-la no site oficial, confirmando encontros entre Moraes e Galípolo para tratar “exclusivamente” dos efeitos da Magnitsky. Assim como a nota do Banco Central, a comunicação do Supremo não informava datas nem detalhava o contexto.

O Globo ressalta ainda que somente quase 35 horas após a divulgação do novo episódio o STF enviou uma segunda nota, negando que tivesse havido contatos telefônicos e informando que ocorreram duas reuniões, em 14 de agosto e 30 de setembro. Para o editorial, essa sequência de respostas “deixa dúvidas no ar” e aumenta a gravidade institucional do episódio.

Nivel altíssimo de sigilo

O texto também chama atenção para o fato de que o processo do Banco Master foi colocado sob “nível altíssimo de sigilo” pelo ministro Dias Toffoli, relator do caso no STF. O editorial menciona que, conforme revelou o colunista Lauro Jardim, a imposição do sigilo ocorreu logo depois de Toffoli ter viajado a Lima em um jato de empresário para assistir à final da Libertadores, ao lado do advogado de um diretor do Master. Toffoli alegou que não tratou do caso durante a viagem e que só foi sorteado relator naquele mesmo dia.

Para o jornal, no entanto, a soma de fatos comprometedores torna “inaceitável” que o caso siga blindado do escrutínio público. O editorial defende que Toffoli suspenda imediatamente o sigilo e que as investigações passem a tramitar “com total transparência”, como forma de preservar a credibilidade do Supremo e reduzir a crise de confiança.

O Globo também cobra que o STF avance na adoção de um código de conduta e regras claras para evitar conflitos de interesse, como já defendeu publicamente o presidente da Corte, ministro Edson Fachin. Segundo o editorial, o objetivo não deve ser apenas proteger a imagem do tribunal, mas reforçar sua missão institucional e evitar que qualquer dúvida paire sobre sua integridade.

Ao final, o jornal sustenta que medidas de transparência e regras de conduta seriam “saneadoras” para as instituições da República e teriam efeito revigorante sobre a democracia, justamente num momento em que a relação entre o STF e a sociedade é atravessada por desconfiança e tensão política.

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