Analista Andrew Korybko: encontro entre Putin e Trump em Budapeste pode resultar em avanços concretos
Em meio a tensões crescentes entre Rússia e Estados Unidos, Korybko avalia que o contexto geopolítico pressiona ambos os lados a buscar compromissos
247 – O analista geopolítico Andrew Korybko avaliou, em artigo publicado nesta sexta-feira (17 de outubro de 2025), que o próximo encontro entre os presidentes Vladimir Putin e Donald Trump, previsto para ocorrer em Budapeste, tem potencial para gerar resultados concretos — em contraste com a reunião anterior, em Anchorage, que não produziu avanços significativos.
Segundo Korybko, a nova cúpula se insere em um cenário de forte pressão geoestratégica sobre ambos os países, marcado por tensões bilaterais crescentes e pelo temor de provocações sob falsa bandeira na Europa, capazes de manipular as duas potências a um confronto direto.
“O contexto geoestratégico de novas pressões sobre cada lado, o aumento das tensões bilaterais e o medo crescente de provocações de bandeira falsa na Europa que possam manipulá-los a entrar em guerra tornam provável que a cúpula de Budapeste seja mais bem-sucedida do que a de Anchorage”, escreveu o analista.
Obstáculos e impasses da cúpula anterior
Korybko recorda que a tentativa anterior de reaproximação, durante a reunião no Alasca, tinha como objetivo construir uma parceria estratégica centrada em recursos energéticos, que poderia servir de base para um relacionamento mais amplo no futuro. No entanto, as divergências sobre a guerra na Ucrânia — especialmente quanto ao controle do Donbass — impediram qualquer avanço real.
Após o fracasso de Anchorage, segundo o analista, a Europa se tornou um obstáculo adicional à paz, unindo-se a Reino Unido e Ucrânia na formulação de “garantias de segurança” que irritaram Moscou. Trump, pressionado por aliados como Lindsey Graham e pelo próprio Volodymyr Zelensky, teria endurecido o discurso contra Putin, o que agravou o impasse.
Pressões sobre Moscou e Washington
O artigo destaca que novos fatores de pressão surgiram para ambos os lados.
Do lado russo, o chamado Corredor TRIPP — via de influência ocidental no sul da Rússia, passando pela Turquia, membro da OTAN — representa um desafio geopolítico, enquanto a Polônia busca reviver seu antigo status de potência regional. Além disso, a inteligência russa (SVR) afirmou que tropas britânicas e francesas já estariam operando na região de Odessa, na Ucrânia.
Nos Estados Unidos, Trump enfrenta dificuldades diante do aprofundamento das relações sino-indianas, resultado do fracasso da política de pressão americana sobre Nova Délhi. Ao mesmo tempo, Moscou e Pequim avançam com o projeto do gasoduto Power of Siberia 2, visto como um triunfo estratégico para a China e um revés para a estratégia de “reequilíbrio eurasiático” de Washington.
O risco de provocações e o possível acordo
Korybko lembra que o Serviço de Inteligência Exterior russo (SVR) alertou duas vezes sobre planos de falsas bandeiras no Báltico, seguidas por incidentes suspeitos na Polônia e na Escandinávia, manipulados por setores do “deep state” ocidental. Essas tensões, segundo o analista, criam um clima de instabilidade que torna o encontro de Budapeste uma oportunidade crucial para reduzir o risco de guerra direta.
Para ele, há espaço para um grande compromisso geopolítico que alivie as pressões sobre ambos os lados. Entre as possibilidades, Korybko cita a aceitação de “garantias de segurança” limitadas para a Ucrânia por parte da Rússia e a redução das exportações de armas norte-americanas para Kiev e para a OTAN. Em contrapartida, acordos estratégicos de energia e recursos naturais poderiam ser firmados, caso se chegue a um cessar-fogo ou à suspensão formal do conflito.
“A geopolítica atual sugere que um grande compromisso pode agora ser possível, aliviando a pressão sobre cada lado, reduzindo as tensões bilaterais e impedindo que provocações os manipulem a entrar em guerra”, analisa Korybko.
Expectativas para Budapeste
O analista aponta ainda que arranjos informais podem surgir como parte do entendimento — como uma cooperação de Moscou com Washington na “gestão” do Irã, em troca de uma pressão americana para que Zelensky implemente alguma forma de ‘desnazificação simbólica’ e retire tropas do Donbass.
Apesar da possibilidade de provocações da Ucrânia, da União Europeia ou do Reino Unido para sabotar a cúpula, Korybko avalia que a conjuntura inédita de pressões externas torna provável que Putin e Trump saiam de Budapeste com um resultado tangível.
“Se Putin e Trump de fato voltarem a se reunir em breve, é esperado que desta vez concordem em algo concreto”, conclui o analista.



