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Rússia não aceita alterações em propostas de paz feitas por Ucrânia e Europa

Assessor de Putin afirma que mudanças sugeridas por Europa e Ucrânia não aumentam chances de paz e relativiza iniciativa de diálogo trilateral

Yuri Ushakov (Foto: Tass via Ministério das Relações Exteriores da Rússia)

247 - As perspectivas de um acordo para encerrar a guerra na Ucrânia seguem distantes, segundo avaliação do Kremlin. O principal assessor de política externa do presidente russo Vladimir Putin afirmou que as alterações propostas por países europeus e por Kiev às iniciativas apresentadas pelos Estados Unidos não contribuíram para aproximar as partes de uma solução negociada.

As declarações foram dadas por Yuri Ushakov, assessor presidencial russo para assuntos externos, em comentários a jornalistas em Moscou, informa a Reutera. 

De acordo com Ushakov, as propostas originalmente elaboradas por Washington já haviam provocado apreensão entre líderes europeus e autoridades ucranianas. O receio, segundo esse entendimento, era de que os termos favorecessem excessivamente Moscou e levassem o governo do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a pressionar Kiev por concessões consideradas excessivas.

Desde então, negociadores da Europa e da Ucrânia passaram a dialogar com representantes de Trump na tentativa de incluir novas sugestões às versões preliminares do plano norte-americano. O conteúdo exato das propostas revisadas, no entanto, não foi tornado público.

Ushakov foi direto ao comentar o impacto dessas iniciativas. “Isto não é uma previsão”, afirmou o assessor, segundo agências de notícias russas, ao ponderar que ainda não havia analisado os textos finais. Em seguida, acrescentou: “Tenho certeza de que as propostas que os europeus e ucranianos fizeram ou estão tentando fazer definitivamente não melhoram o documento e não aumentam a possibilidade de alcançar uma paz duradoura.”

As declarações ocorreram após uma série de encontros diplomáticos nos Estados Unidos. O enviado especial de Putin, Kirill Dmitriev, reuniu-se na Flórida com o enviado especial norte-americano Steve Witkoff e com Jared Kushner, genro de Donald Trump. As conversas, realizadas em Miami, chegaram ao fim após dois dias, conforme mostraram imagens exibidas pela televisão russa.

Segundo Ushakov, Dmitriev retornaria a Moscou para relatar diretamente a Putin os resultados dos contatos. “Ele (Dmitriev) trará de volta alguns sinais que os americanos receberam dos europeus e dos ucranianos”, disse o assessor em declarações publicadas pelo jornalista do pool do Kremlin Pavel Zarubin em seu canal no Telegram. “Depois disso, formularemos a posição com a qual iremos avançar, inclusive em nossos contatos com os americanos”, completou.

No centro das discussões está a possibilidade de um acordo que ponha fim ao conflito mais letal em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial, além do futuro político e territorial da Ucrânia e do papel que as potências europeias terão em um eventual arranjo mediado pelos Estados Unidos.

No sábado (19), o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky afirmou que Kiev apoiaria uma proposta norte-americana para negociações trilaterais envolvendo Estados Unidos, Rússia e Ucrânia, caso isso facilitasse novas trocas de prisioneiros e abrisse caminho para encontros entre líderes nacionais. Ushakov, porém, minimizou a iniciativa e afirmou que a ideia “não foi seriamente discutida por ninguém” e que não há trabalho em andamento nesse sentido.

Moscou sustenta que líderes europeus estariam tentando inviabilizar as negociações ao impor condições que sabem ser inaceitáveis para a Rússia. Autoridades russas afirmam ainda que, ao longo de 2025, forças do país avançaram entre 12 e 17 quilômetros quadrados por dia em território ucraniano.

Já a Ucrânia e governos europeus argumentam que a Rússia não pode alcançar seus objetivos após o que classificam como uma apropriação territorial de caráter imperial. Para Putin, por sua vez, a guerra representa um ponto de inflexão nas relações com o Ocidente, que, segundo ele, teria humilhado a Rússia após o fim da União Soviética ao expandir a Otan e avançar sobre áreas consideradas por Moscou como parte de sua esfera de influência.

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