HOME > Mundo

Trump diz que EUA e Ucrânia estão “muito mais perto” de acordo de paz

Em encontro com Zelensky na Flórida, presidente dos EUA afirma que negociações avançaram em garantias de segurança

Zelensky e Trump (Foto: Reuters)

247 – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou neste domingo que ele e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, estão “ficando muito mais perto, talvez muito perto” de um acordo para encerrar a guerra na Ucrânia, mas admitiu que ainda restam “algumas questões espinhosas”, sobretudo relacionadas ao futuro do Donbas, região do leste ucraniano cobiçada pela Rússia.

A declaração foi feita durante uma coletiva conjunta após uma reunião realizada no resort de Trump, o Mar-a-Lago, em Palm Beach, na Flórida. As informações são da Reuters, que acompanhou o encontro e descreveu o momento como um novo passo nas conversas de paz mediadas pelos Estados Unidos.

“Está sem solução, mas está chegando muito mais perto”, diz Trump sobre o Donbas

Trump reconheceu que o tema territorial segue sem um desfecho e classificou o Donbas como o principal obstáculo para a conclusão do pacto. “Está sem solução, mas está chegando muito mais perto. É uma questão muito difícil”, declarou o presidente dos EUA, ao reforçar que as negociações “estão avançando na direção certa”.

Zelensky, por sua vez, ressaltou que a Ucrânia busca evitar uma retirada completa de suas forças do Donbas, possibilidade que estaria presente em uma proposta discutida por Washington. A Rússia exige controle integral da região, enquanto Kiev defende que o mapa seja “congelado” nas atuais linhas de batalha.

De acordo com o relato, os dois líderes afirmaram que houve progresso em dois dos temas mais controversos do processo: garantias de segurança para a Ucrânia e a divisão territorial no leste do país. Ainda assim, ambos evitaram detalhar termos do que já teria sido acordado.

Zelenskiy diz que garantias de segurança já foram acertadas; Trump fala em “95%”

Em relação às garantias de segurança — um ponto crucial para Kiev — Zelensky declarou que um entendimento já foi alcançado. “A chave para um marco de paz duradouro”, disse o presidente ucraniano ao tratar do tema, descrito por ele como condição central para qualquer acordo definitivo.

Trump, no entanto, adotou um tom mais cauteloso. Disse que os dois estão “95%” próximos de um acerto e indicou que espera que países europeus assumam “uma grande parte” do esforço, com apoio norte-americano.

O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou em publicação na rede X que houve avanço no debate sobre garantias e informou que países da chamada “Coalizão dos Dispostos” devem se reunir em Paris no início de janeiro para finalizar “contribuições concretas” para esse mecanismo.

Trump diz que conversas terão desfecho “em poucas semanas”

Questionado sobre prazos, Trump evitou estabelecer uma data final para o acordo, mas afirmou que será possível saber “em poucas semanas” se as negociações terão sucesso. Segundo ele, ainda faltam resolver “questões espinhosas” ligadas ao território.

Zelensky acrescentou que qualquer pacto precisaria ser aprovado pelo Parlamento ucraniano ou submetido a referendo, sinalizando que o processo interno de validação pode ser determinante para a conclusão do acordo. Trump afirmou que estaria disposto a falar com o Parlamento se isso ajudasse a garantir o fechamento do entendimento.

Telefonema com Putin antecedeu encontro; Kremlin chamou ligação de “amigável”

Pouco antes de Zelensky chegar ao Mar-a-Lago, Trump conversou por telefone com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em uma ligação que ele descreveu como “produtiva”. Do lado russo, o assessor de política externa do Kremlin, Yuri Ushakov, afirmou que a conversa foi “amigável”.

Ushakov disse que Putin argumentou que um cessar-fogo de 60 dias proposto pela União Europeia e pela Ucrânia prolongaria a guerra. Segundo ele, o líder russo também teria dito que Kiev precisa decidir sobre o Donbas “sem mais demora”.

Trump afirmou que conversou com Putin por mais de duas horas e chegou a dizer que o líder russo se comprometeu a ajudar a reconstruir a Ucrânia após o conflito, inclusive oferecendo energia barata. “A Rússia quer ver a Ucrânia ter sucesso”, afirmou Trump, acrescentando: “Parece um pouco estranho”.

Ele também declarou que pretende voltar a ligar para Putin após o encontro com Zelensky. A posição do Kremlin foi reforçada por Kirill Dmitriev, enviado especial de Putin, que escreveu que “o mundo inteiro aprecia os esforços de paz” de Trump e de sua equipe.

Usina de Zaporizhzhia entra na mesa; EUA propõem controle compartilhado

Outro tema citado nas negociações foi a usina nuclear de Zaporizhzhia, atualmente sob controle russo e considerada estratégica para o futuro energético da Ucrânia. De acordo com a reportagem, negociadores dos EUA teriam proposto uma forma de controle compartilhado do local.

Trump disse que houve avanços para definir o destino da usina e afirmou que ela pode “começar a funcionar quase imediatamente”. Ele também declarou que foi “um grande passo” o fato de a Rússia não ter bombardeado a instalação durante o período recente.

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informou no domingo que reparos em linhas de energia começaram após um cessar-fogo local negociado pela própria agência.

Rússia avança no território e ataques continuam, apesar das negociações

Enquanto as conversas avançavam, a guerra continuou no terreno. No sábado anterior ao encontro, forças russas atacaram Kiev e outras áreas com centenas de mísseis e drones, deixando partes da capital sem energia e aquecimento.

Zelenskiy classificou os ataques como uma resposta às tentativas de paz mediadas pelos EUA, mas Trump afirmou acreditar que Putin e Zelensky estão falando sério sobre encerrar o conflito.

A Rússia mantém o controle total da Crimeia desde sua anexação em 2014 e afirma que, desde a invasão em larga escala iniciada quase quatro anos atrás, ocupa cerca de 12% do território ucraniano, incluindo aproximadamente 90% do Donbas, 75% de Zaporizhzhia e Kherson e parcelas de outras regiões.

Europa participa por telefone e cobra garantias “robustas”

Líderes europeus participaram por telefone de parte da reunião e reforçaram a importância das garantias de segurança. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que a Europa está pronta para seguir trabalhando com a Ucrânia e com os Estados Unidos e classificou essas garantias como de “importância primordial”.

Um porta-voz do primeiro-ministro britânico Keir Starmer declarou que os líderes europeus “destacaram a urgência de terminar esta guerra bárbara o mais rápido possível” e sublinharam a necessidade de garantias “robustas”.

Um acordo ainda distante, mas com sinais de avanço

Apesar do tom otimista de Trump e do anúncio de Zelensky sobre as garantias de segurança, a reportagem destaca que o processo ainda carece de detalhes públicos e que os pontos mais delicados — território, Donbas e presença de forças estrangeiras — permanecem em disputa.

Mesmo assim, as falas dos dois líderes indicam que Washington tenta construir uma saída negociada e que o encontro em Palm Beach pode ter marcado um novo estágio nas conversas, ainda que o desfecho dependa, como admitiu o próprio Trump, de superar as “questões espinhosas” que seguem travando o acordo.

Artigos Relacionados