Zelensky pressiona EUA por garantias de segurança mais longas
Presidente ucraniano afirma ter pedido aos EUA proteção por prazos superiores a 15 anos
247 - As negociações para um acordo de paz entre Ucrânia e Rússia avançaram nas últimas semanas, mas continuam marcadas por impasses profundos, especialmente em relação ao futuro territorial do país. Após reunião realizada no domingo (28), na Flórida, entre o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, a região do Donbass voltou a se consolidar como o principal ponto de bloqueio para um entendimento duradouro. Apesar do discurso otimista adotado por Trump, ainda não há consenso sobre os pilares centrais do plano de paz apresentado por Washington e reformulado diversas vezes desde novembro. As informações são da RFI.
Reunião com Trump expõe entraves territoriais
Após o encontro em Mar-a-Lago, Trump afirmou que está “muito próximo” de um acordo de paz, embora tenha reconhecido a existência de “um ou dois pontos delicados”. Entre eles, está o futuro do Donbass, composto pelas regiões de Donetsk e Lugansk, reivindicadas pela Rússia sob o argumento de vínculos históricos e herança soviética.
Para Kiev, no entanto, trata-se de território ucraniano, conforme estabelece a Constituição do país. Antes da reunião, Zelensky buscava convencer Washington a flexibilizar uma das propostas mais sensíveis do plano americano, que prevê a retirada completa das tropas ucranianas da região, o que significaria ceder áreas ainda sob controle de Kiev a Moscou.
Desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, a Rússia ocupa cerca de 12% do território ucraniano, além da península da Crimeia, anexada em 2014. Trump e Zelensky admitiram que o destino do Donbass permanece indefinido. “Não está resolvido, mas estamos chegando perto”, disse o presidente americano. “É uma questão muito difícil”, acrescentou.
Garantias de segurança ganham centralidade
O debate sobre garantias de segurança tornou-se um dos eixos centrais das negociações. Em mensagem publicada nas redes sociais, Zelensky afirmou que houve “progressos significativos” nas discussões conduzidas por equipes americanas e ucranianas, que definiram as próximas etapas do plano de 20 pontos apresentado por Trump.
Nesta segunda-feira (29), o presidente ucraniano afirmou que os Estados Unidos propuseram garantias de segurança “sólidas” por um período inicial de 15 anos, com possibilidade de prorrogação. Zelensky disse ter pedido prazos mais longos durante a reunião com Trump. “Eu realmente queria que essas garantias fossem mais longas e que consideramos a possibilidade de 30, 40, 50 anos”, afirmou, em coletiva de imprensa online.
Trump declarou que a questão está resolvida em “95%” e indicou que espera que os países europeus assumam grande parte dessas garantias, com apoio dos Estados Unidos. Zelensky anunciou ainda novas reuniões com líderes americanos e europeus, tanto na Ucrânia quanto em Washington, nas próximas semanas.
Europa busca protagonismo nas negociações
Após o encontro entre Trump e Zelensky, o presidente francês Emmanuel Macron reconheceu avanços no tema das garantias de segurança e anunciou uma reunião da chamada “coalizão dos voluntários” no início de janeiro, em Paris, para definir contribuições concretas dos países envolvidos.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que a Europa está pronta para continuar colaborando com a Ucrânia e com os parceiros americanos para consolidar os avanços rumo a um acordo de paz.
Conversa com Putin e escalada militar
Pouco antes da chegada da delegação ucraniana à Flórida, Trump conversou por telefone com o presidente russo Vladimir Putin. O presidente americano classificou a ligação como “muito produtiva”, enquanto um conselheiro do Kremlin descreveu o tom como “cordial”.
Segundo Yuri Uchakov, assessor de política externa da presidência russa, Putin afirmou que a proposta de uma trégua de 60 dias, apresentada pela Ucrânia e pela União Europeia, apenas prolongaria o conflito. Ele acrescentou que Kiev precisa tomar uma “decisão corajosa” sobre o Donbass.
Durante o fim de semana, ataques russos se intensificaram, atingindo Kiev e outras regiões com mísseis e drones, o que provocou cortes de energia e aquecimento em alguns bairros da capital. Zelensky classificou os ataques como uma resposta direta às negociações de paz lideradas por Washington. Trump, por sua vez, disse acreditar que Putin é “sincero” em suas intenções de alcançar a paz.
Usina de Zaporíjia entra nas negociações
Outro ponto sensível das negociações envolve a usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa. A administração americana propôs que Rússia e Ucrânia compartilhem seu controle. Segundo informações divulgadas, trabalhos de reparação nas linhas elétricas foram iniciados após um cessar-fogo local mediado pela Agência Internacional de Energia Atômica.
Trump afirmou que as negociações sobre a usina avançaram e que ela pode retomar suas operações quase imediatamente. Apesar dos esforços diplomáticos, Putin alertou que a Rússia continuará sua ofensiva militar caso Kiev não aceite uma paz rápida, enquanto o Exército russo reivindica a tomada de novas regiões ucranianas, mantendo o cenário de incerteza sobre um acordo definitivo.



