Master nega responsabilidade por créditos repassados ao BRB
Instituição afirma que não originou os empréstimos sob investigação da PF
247 - A defesa do Banco Master divulgou, no sábado (22), uma nota pública em que nega ter sido responsável pela origem dos créditos repassados ao Banco de Brasília (BRB) e que motivaram a Operação Compliance Zero. O caso, que envolve suspeitas de irregularidades em operações financeiras bilionárias, levou à prisão do controlador do Master, Daniel Vorcaro, na segunda-feira (17).
No segundo parágrafo da comunicação, o Master cita informações inicialmente reveladas pelo Broadcast, afirmando que a empresa responsável pela geração dos empréstimos – e não o banco – conduziu todo o processo que deu origem às carteiras posteriormente revendidas ao BRB. Apesar disso, a instituição não apresentou esclarecimentos sobre pontos centrais levantados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal após denúncia do Banco Central.
Entre os elementos ignorados na manifestação está a relação da empresa Tirreno Consultoria de Crédito – responsável pelos créditos revendidos ao BRB – com um ex-funcionário do próprio Master, André Felipe de Oliveira Seixas Maia, que a teria constituído. Outra questão não explicada é a mudança abrupta de nome da Tirreno acompanhada de um salto em seu capital social, de R$ 100 para R$ 30 milhões, apenas dois dias antes da assinatura do contrato com o banco.
O juiz da 10ª Vara Criminal do Distrito Federal, ao autorizar a operação, destacou que “a hipótese investigativa é que a solução do Grupo Master para aportar recursos muito superiores à sua produção histórica (de empréstimos) e que fossem capazes de cobrir o rombo de R$ 12 bilhões consistiu em se associar, ilicitamente, a uma Sociedade de Crédito Direto, com o objetivo de inflar seu patrimônio artificialmente, por meio de carteiras inexistentes e revendê-las ao BRB”.
Em análise realizada pelo Banco Central, segundo o relatório citado na investigação, a verificação de 30 CPFs fornecidos pela Tirreno revelou inexistência de empréstimos reais. Conforme o documento, “não foi possível estabelecer correspondência das operações com os respectivos fluxos financeiros”.
Na nota divulgada no sábado, o Master afirmou ainda que o BRB “não ficou com os créditos originados por terceiros, mas com outras carteiras e ativos do conglomerado Master, que não são objeto da investigação”. O BRB, por sua vez, comunicou que já liquidou ou substituiu R$ 10 bilhões dos R$ 12,2 bilhões envolvidos.
Mesmo assim, o Master não explicou por que não foram cumpridas cláusulas contratuais que determinavam a restituição integral dos valores ao banco público — e não a troca por outras carteiras, como sustentam os investigadores. Segundo o juiz responsável pelo caso, “o BRB informou que faria uma substituição dos créditos, todavia essa substituição seria realizada de forma completamente contrária aos termos do contrato, que não permitia essa substituição”.
Outro trecho da decisão ressalta o “descumprimento da cláusula resolutiva que importaria na devolução imediata de R$ 6,7 bilhões de conta vinculada da Tirreno no Banco Master aos cofres do BRB, optando-se por uma devolução em tranches mensais totalmente alheia às previsões contratuais”.
Para o magistrado, também causou estranheza o fato de o BRB ter exigido documentação adicional somente após questionamentos do Banco Central. Ele classificou essa postura como “bastante suspeita para quem realizaria operação neste montante e que deveria se cercar de cuidados objetivos e mínimos para a viabilidade deste tipo de transação”. Em sua avaliação, a instituição deveria ter recorrido a auditoria independente e solicitado acessos assistidos às dependências do Banco Master.
A Operação Compliance Zero segue em andamento, com foco no esclarecimento das inconsistências e na apuração das responsabilidades pelas operações bilionárias que, segundo o Ministério Público, podem ter inflado artificialmente o patrimônio de instituições e provocado danos ao setor público.



