Crise do Banco Master leva STF ao centro de tensão inédita em Brasília
Investigações sobre banco liquidado pelo BC colocam Alexandre de Moraes sob questionamentos, geram apreensão no governo Lula, no Judiciário e no mercado
247 - As apurações que envolvem o Banco Master, liquidado pelo Banco Central em novembro, abriram uma crise sem precedentes ao levar o Supremo Tribunal Federal para o centro de um embate institucional que extrapola o sistema financeiro. Pela primeira vez, um ministro da Corte passa a ser alvo de críticas não apenas como julgador, mas como personagem diretamente associado a suspeitas de irregularidades, o que amplia a tensão entre Brasília e São Paulo.
A controvérsia ganhou força a partir de informações divulgadas pela coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo, e também por reportagens do jornal O Globo. No centro do episódio está um contrato de R$ 129 milhões firmado entre o Banco Master e o escritório de advocacia de Viviane de Moraes, mulher do ministro Alexandre de Moraes. Segundo autoridades ouvidas nos bastidores, a falta de esclarecimentos públicos sobre os serviços prestados levanta questionamentos que acabam repercutindo sobre a imagem do próprio ministro e, por consequência, do STF.
De acordo com as informações publicadas, Alexandre de Moraes teria sido citado em uma reportagem que apontou uma suposta tentativa de interferência junto ao Banco Central em favor da instituição financeira. O ministro negou essa versão em nota oficial, afirmando que não houve qualquer pressão sobre o órgão regulador. Até o momento, porém, ele não se manifestou sobre o valor do contrato envolvendo o escritório de sua esposa, que também não respondeu aos questionamentos apresentados.
O impacto do caso se espalhou rapidamente por diferentes esferas do poder. Em Brasília, integrantes do governo Lula e do próprio Supremo avaliam que a situação pode evoluir para um escândalo de grandes proporções, com potencial de atingir atores do Legislativo, figuras próximas ao Executivo e, de forma inédita, a credibilidade do Judiciário. Há, segundo relatos, uma preocupação crescente com a erosão da imagem de Alexandre de Moraes e com os efeitos disso sobre a confiança institucional no STF.
Um integrante do governo chegou a afirmar à coluna que o ministro poderia não ter condições de “sobreviver” a uma articulação que estaria se formando contra ele, reunindo banqueiros e empresários da avenida Faria Lima, setores da mídia e grupos da direita. Na avaliação dessa fonte, seria um confronto mais duro do que aquele travado por Moraes contra “um isolado Jair Bolsonaro e com militares igualmente desarticulados de centros de poder”.
No mercado financeiro, a crise também é acompanhada de perto. Há disposição, segundo relatos, de manter pressão para que o controlador do Banco Master, Daniel Vorcaro, seja responsabilizado pelas irregularidades investigadas. Um interlocutor ouvido pela coluna afirmou que o objetivo não é “derrubar o Alexandre”, mas evitar que as apurações terminem “em pizza”.
Dentro do Supremo, as avaliações são divergentes. Parte dos ministros considera que a crise tende a ser passageira e que Alexandre de Moraes estaria sendo alvo de uma narrativa falsa, sem provas de interferência no Banco Central. Outros magistrados avaliam que o ministro merece apoio e estaria sendo atacado justamente por suas atuações e posições firmes. Ainda assim, há quem defenda que ele deveria ter reagido de forma mais contundente às acusações, detalhando o trabalho do escritório de Viviane de Moraes para afastar qualquer dúvida.



