Alcolumbre rompe com Jaques Wagner, que prevê votação de Messias no STF só em 2026
Líder do governo afirma que escolha para o STF é prerrogativa do presidente e diz não saber por que Alcolumbre rompeu relações
247 – O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), afirmou que há “uma tensão muito grande” na Casa após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva oficializar o nome do advogado-geral da União, Jorge Messias, para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF). As declarações foram feitas em entrevista à GloboNews e publicadas pelo jornal Valor, que também relatou o rompimento de Davi Alcolumbre (União-AP) com o senador baiano.
Segundo Wagner, o ambiente político tornou-se tão delicado que a votação sobre Messias não deve ocorrer ainda este ano, estendendo a análise para 2026, já que o Congresso entra em recesso em dezembro. “Há uma tensão muito grande, eu acho que tem que esperar um pouco, esfriar um pouco essa tensão”, afirmou.
Sem espaço na agenda e tensão acumulada
Jaques Wagner destacou que o calendário legislativo impede uma decisão rápida. “Nós temos quatro semanas até terminar o ano legislativo. Nós temos LDO, temos Orçamento, temos uma série de pautas que vão entrar em votação, então eu acho que nós não teremos tempo hábil [para votar a indicação]”, disse.
O líder do governo afirmou ainda que conversará com o presidente Lula assim que ele retornar a Brasília. A oposição de parte da cúpula do Senado, porém, dificulta o avanço da indicação.
Rompimento unilateral de Alcolumbre
Wagner declarou não saber por que Alcolumbre decidiu romper relações: “Eu recebi notícias de que ele estava chateado comigo, rompido comigo. Eu confesso que não sei qual é o motivo. Minha relação com ele sempre foi a melhor possível”, disse.
Ele lembrou que ambos sempre tiveram uma convivência amistosa. “Espero que a gente volte a conversar com a naturalidade que a gente sempre conversou, até porque nós somos os dois únicos judeus no Senado da República”, completou.
De acordo com o Valor, tanto Alcolumbre quanto seu antecessor, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ficaram contrariados com a formalização do nome de Jorge Messias. A expectativa de ambos era que o presidente escolhesse o próprio Pacheco para a vaga no STF.
Motivo da insatisfação: Lula não ligou para Alcolumbre
Segundo Wagner, o desconforto de Alcolumbre teria ocorrido porque ele esperava um telefonema de Lula antes do anúncio oficial. “Nesse episódio agora da indicação do Messias é que houve uma chateação dele, só que a escolha é do presidente. A mim, como líder do governo, me cabe trabalhar para que a indicação seja aprovada no Senado”, afirmou.
O senador detalhou que Lula conversou com Alcolumbre e Pacheco semanas antes, mas a oficialização veio depois, sem novo aviso pessoal: “O Alcolumbre estava na expectativa de que o presidente iria ligar para ele antes da indicação”, explicou.
Interlocutores ouvidos pelo Valor afirmam que Alcolumbre acredita que Wagner teria atuado em favor de Messias, que já trabalhou em seu gabinete, o que foi entendido como um gesto contrário aos interesses da cúpula do Senado. O presidente do Senado teria dito a aliados que Wagner “escolheu o PT e não o Senado”.
Wagner nega articulação e diz que apenas transmitiu a verdade
O líder do governo rebateu a versão de que atuou contra Pacheco. “Eu nunca faltei com a verdade, com nenhum deles, nem com o Rodrigo, nem com o Davi”, afirmou, dizendo que sempre reproduziu fielmente o que ouvia de Lula.
Wagner contou que chegou a ser criticado por Alcolumbre após afirmar à imprensa que Lula estava decidido por Messias: “Se eu quisesse ficar confortável, eu podia ter alimentado uma mentira. ‘Ah, ele está repensando’. Ele não estava repensando. […] A minha resposta foi a verdade que eu tinha”, justificou.
Confiança na aprovação e lembrança das votações da era Bolsonaro
Apesar da crise, Wagner diz estar seguro de que a indicação de Messias será aprovada no Senado. Ele lembrou que, mesmo na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, trabalhou institucionalmente pelas nomeações dos ministros Kássio Nunes Marques e André Mendonça.
“Eu jamais trabalhei contra, porque eu entendo que é uma prerrogativa do presidente, a menos que venha uma denúncia que desabone o indicado. […] Eu estou muito tranquilo comigo mesmo”, afirmou.



