Bolsonaristas na Câmara já se articulam para preservar mandato de Ramagem
Bolsonaristas usam precedente Zambelli para adiar a perda do mandato. Hugo Motta se esquiva
247 - A articulação política que envolve o futuro do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) ganhou novos contornos após a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que ordenou à Câmara dos Deputados a declaração imediata da perda de mandato. A oposição agora busca evitar que o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), cumpra prontamente a determinação.
Segundo o jornal O Globo, o cálculo dos aliados de Jair Bolsonaro (PL) é usar o caso de Carla Zambelli como munição política. O atraso da Câmara em executar a cassação da deputada — condenada pelo plenário do STF por invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça — tornou-se, agora, a principal referência para tentar retardar o rito no caso de Ramagem.
Nos bastidores, dirigentes do PL e parlamentares próximos ao bolsonarismo afirmam que a Mesa Diretora não teria obrigação de agir de imediato, mesmo diante das palavras de Moraes, que definiu a execução como um ato “imediato” e “meramente formal”. Esse grupo tenta defender que a Câmara poderia enviar o caso ao plenário — estratégia utilizada para Zambelli — e, assim, ganhar tempo político.
Zambelli, detida na Itália desde julho, permanece formalmente deputada porque Hugo Motta encaminhou o processo à Comissão de Constituição e Justiça, que ainda analisa o relatório sobre a perda de mandato. O intervalo entre a decisão do STF e a resposta do Legislativo é, agora, o principal argumento da oposição.
Motta adota cautela e não antecipa o rito
Questionado nesta terça-feira (25) sobre como pretende conduzir o processo, Hugo Motta evitou indicar qualquer caminho. Limitou-se a dizer: “Quando chegar eu vou analisar e vou responder para vocês. Vamos aguardar”. A ausência de detalhes reforçou a percepção de que o presidente da Câmara busca medir a correlação de forças entre as bancadas antes de assumir qualquer posição.
Enquanto o PL trabalha para empurrar a análise, o PT insiste na aplicação imediata do artigo 55 da Constituição, que determina a perda automática do mandato em caso de condenação criminal com trânsito em julgado.
No entorno de Hugo Motta, a avaliação é que a tendência é cumprir o rito constitucional e evitar novos atritos institucionais. No entanto, interlocutores admitem que o cenário ficou mais delicado após a prisão de Jair Bolsonaro e a fuga de Ramagem aos Estados Unidos, o que aumentou o peso político de qualquer decisão dentro da Câmara.



