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Votação do PL da Dosimetria foi vingança por atraso nas emendas, dizem deputados (vídeo)

Parlamentares foram flagrados escancarando o que teria levado Hugo Motta a pautar o projeto que reduz a pena de golpistas

Votação do PL da Dosimetria foi vingança por atraso nas emendas, dizem deputados (vídeo) (Foto: Abr)

247 - Deputados da base governista atribuíram a decisão do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de levar ao plenário o projeto que reduz a pena dos condenados por tentativa de golpe de Estado a um mal-estar crescente com o Palácio do Planalto. O jornal O Globo flagrou uma conversa de parlamentares que relacionaram a movimentação de Motta ao atraso no pagamento de emendas impositivas.

A conversa ocorreu em um canto do plenário pouco depois da reunião de líderes em que Motta anunciou a votação da proposta — aprovada na madrugada desta quarta-feira (10) e enviada ao Senado. O diálogo reuniu nomes do PDT e expôs a irritação da base com a pressão exercida pela oposição para destravar os repasses.

O deputado Leo Prates (PDT-BA) foi quem manifestou maior indignação, ao relembrar que o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), reclamou durante a reunião que apenas 58% das emendas impositivas haviam sido pagas. Ele relatou aos colegas que a cobrança gerou tensão imediata, especialmente após a resposta dos líderes governistas, Lindbergh Farias (PT-RJ) e José Guimarães (PT-CE), que teriam assegurado quitação até 30 de dezembro.

“Você não viu a narrativa de quando veio a pauta (na reunião de líderes)? O Sóstenes disse que pagou 58% das emendas. O Hugo Motta veio e disse: ‘Eu preciso da ajuda para pagar’. Aí o Lindbergh e o Guimarães disseram: ‘Até 30 de dezembro paga’. Aí veio essa pauta”, afirmou Prates, antes de completar: “Eu sabia que vinha esculhambação”.

Participavam da conversa improvisada os deputados Mauro Benevides (PDT-CE), Leônidas Cristino (PDT-CE) e outros dois parlamentares. Nenhum deles quis comentar o diálogo posteriormente. Hugo Motta também não se manifestou.

Outro deputado presente relatou que a oposição demonstrou forte descontentamento com a demora nos repasses, especialmente às vésperas da votação do Orçamento de 2026. Segundo ele, Motta teria alertado: “Ou destrava, ou a Casa não anda”.

Diante do clima de pressão, alguns parlamentares cogitaram apoiar o projeto da dosimetria — que beneficia Jair Bolsonaro (PL) — como forma de sinalizar contrariedade ao governo Lula. A proposta relatada por Paulinho da Força (Solidariedade-SP) prevê redução de penas ao impedir a soma de crimes previstos no capítulo do Estado Democrático de Direito, além de criar redutores para envolvidos sem papel de liderança ou financiamento. O texto não inclui 'anistia ampla, geral e irrestrita', bandeira defendida pelo PL.

Os números das emendas reforçam o descompasso apontado na conversa: dos R$ 50,37 bilhões previstos, R$ 38,24 bilhões estão empenhados (75,9%). Desse total, R$ 26,88 bilhões foram liquidados (53,3%) e R$ 26,54 bilhões efetivamente pagos, o equivalente a 52,7% da verba. Entre as emendas individuais, R$ 18,55 bilhões pagos correspondem a 75,6% do valor empenhado. As emendas de bancada registram execução de R$ 4,51 bilhões (34%), enquanto as de comissão somam R$ 3,47 bilhões pagos, ou 30,2% da dotação atual.

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