Alvo do STF, Jordy cobra ação do Senado contra Moraes
Deputado pede impeachment e cita apuração sobre contatos do ministro com o Banco Central no caso do Banco Master
247 -O deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de desvio de cotas parlamentares, elevou o tom contra a Corte e passou a defender a abertura de um processo de impeachment do ministro Alexandre de Moraes. A cobrança foi direcionada ao Senado Federal, a quem cabe analisar pedidos desse tipo, em meio ao agravamento da crise envolvendo o Banco Master.
Em publicação nas redes sociais, Jordy associou a conduta de Moraes às apurações sobre a atuação do Banco Central no caso da instituição financeira. O parlamentar escreveu: “Enquanto ministros do STF perseguem adversários políticos, o escândalo do Banco Master só se aprofunda. Já é público que a esposa de Alexandre de Moraes recebia milhões do banco sem qualquer registro de atuação — e agora surge algo ainda mais grave: Moraes foi pessoalmente ao Banco Central do Brasil para favorecer o banco. O Brasil assiste a um supremo que persegue, se blinda e age acima da lei. E o Senado Federal continuará vendo tudo isso sem fazer nada?”
A reação do deputado ocorre após a divulgação de que Alexandre de Moraes manteve contatos diretos com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, durante o período em que a autoridade monetária analisava a situação do Banco Master. Segundo a apuração, foram ao menos quatro interações, três por telefone e uma reunião presencial, em meio às discussões internas sobre a venda da instituição ao Banco de Brasília (BRB) e a possibilidade de intervenção.
De acordo com relatos colhidos pela reportagem, Moraes teria procurado Galípolo para acompanhar o andamento da operação anunciada em março e ainda pendente de autorização. Em um encontro presencial, solicitado pelo ministro em julho, Moraes afirmou a um interlocutor que tinha apreço pelo controlador do banco, Daniel Vorcaro, e sustentou que a instituição estaria sendo prejudicada por competir com grandes bancos, além de pedir a aprovação da transação.
Na ocasião, Galípolo informou ao ministro que técnicos do Banco Central haviam identificado indícios de fraude no repasse de R$ 12,2 bilhões em créditos do Banco Master para o BRB. Diante desse cenário, Moraes reconheceu, segundo os relatos, que a operação não poderia avançar caso as irregularidades fossem confirmadas.
O caso teve um desfecho mais grave na segunda-feira (18), com a prisão de Daniel Vorcaro e de outros seis executivos pela Polícia Federal, acusados de participação nas fraudes. No mesmo dia, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master. Procurados, Alexandre de Moraes e Gabriel Galípolo não comentaram os fatos.
A apuração também revelou a existência de um contrato entre o Banco Master e o escritório Barci de Moraes Associados, pertencente à advogada Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro. O acordo previa pagamentos mensais de R$ 3,6 milhões ao longo de três anos, totalizando cerca de R$ 130 milhões, para a representação de interesses do banco junto a órgãos como Banco Central, Receita Federal, Cade e Congresso Nacional. Informações obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação, no entanto, indicam que não houve registros de atuação do escritório nessas instituições.
A crise institucional se intensificou quando o ministro Dias Toffoli determinou que o Supremo assumisse a competência para investigar o caso, decretou sigilo total e fixou prazo de 30 dias para a Polícia Federal realizar oitivas. Técnicos do Banco Central relataram apreensão diante da pressão política sofrida durante o processo.
Em entrevista coletiva na quinta-feira (18), Gabriel Galípolo afirmou estar à disposição do STF. “Eu em especial, como presidente do Banco Central, estou à disposição pra ir lá prestar todo tipo de suporte e apoio ao processo de investigação”, disse. Em seguida, destacou: “Documentamos tudo. Cada uma das ações que foram feitas, cada uma das reuniões, cada uma das trocas de mensagens, cada uma das comunicações, tudo isso está devidamente documentado”.
Na sexta-feira (19), o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que o Banco Central apresente esclarecimentos sobre o processo de liquidação do Banco Master. Para Carlos Jordy, o episódio reforça, segundo suas próprias palavras, a necessidade de uma reação institucional do Senado diante da atuação de ministros do Supremo.



