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Alvo de denúncias vazias e de um processo viciado, Alysson Mascaro reflete sobre a mentira

Filósofo publica artigo em dossiê da PUC-SP dedicado ao tema da mentira e aprofunda crítica ao cancelamento após acusações forjadas

Alysson Mascaro no lançamento de Crítica do Cancelamento (Foto: Brasil 247)

247 – O jurista e filósofo Alysson Leandro Mascaro, alvo de denúncias vazias e de um processo viciado que resultaram em sua expulsão da Universidade de São Paulo, publicou um artigo contundente sobre o tema da mentira no dossiê especial da revista Poliética, periódico de filosofia da PUC-SP, inteiramente dedicado a esse debate central da contemporaneidade.

O dossiê foi organizado pela professora Maria Constança Pissarra, da PUC-SP, e reúne reflexões teóricas sobre a mentira como fenômeno histórico, social e político. No artigo assinado por Mascaro, intitulado Sobre a mentira: sociabilidade, filosofia e crítica, o autor sustenta que a mentira não é um desvio ocasional da vida social, mas um elemento estrutural das formas de dominação, especialmente no capitalismo, onde passa a ser produzida de maneira industrial por aparelhos ideológicos, institucionais e midiáticos.

Ao longo do texto, Mascaro argumenta que “a mentira não é uma escória da subjetividade ou da sociabilidade: é seu material constituinte”, destacando que, nas sociedades capitalistas, verdade e mentira são moldadas por interesses econômicos, pelo Estado e por estruturas jurídicas e comunicacionais. Segundo ele, “qualquer coisa poderá ser verdade ou mentira, desde que o interesse assim a molde”, o que explica a força contemporânea de campanhas de difamação, cancelamento e destruição de reputações.

Perseguição institucional

A reflexão teórica dialoga diretamente com a experiência vivida pelo próprio autor. As acusações falsas publicadas pelo site The Intercept, hoje amplamente contestadas e desprovidas de provas materiais, foram utilizadas como instrumento político e ideológico para forjar sua expulsão da USP, num processo marcado por vícios, atropelos de garantias fundamentais e ausência de contraditório efetivo. O caso tornou-se emblemático do uso da mentira como arma de perseguição institucional no ambiente acadêmico brasileiro.

No artigo, Mascaro afirma que, no capitalismo, a mentira deixa de ser apenas interpessoal e passa a operar de forma massiva e estruturada, articulando mídia, instituições e aparelhos do Estado. Para ele, denúncias fabricadas e processos formais que simulam legalidade cumprem a função de disciplinar corpos dissidentes e eliminar vozes críticas, especialmente aquelas comprometidas com uma análise radical das estruturas de poder.

Crítica do cancelamento

A publicação do texto ocorre no mesmo momento em que Mascaro lança o livro Crítica do cancelamento, pelas editoras Contracorrente e 247, obra na qual aprofunda a análise sobre linchamentos morais, perseguições políticas e o uso instrumental da ética e da moral como formas contemporâneas de repressão. No livro, o filósofo examina como o discurso do cancelamento se tornou uma técnica de controle ideológico, frequentemente desvinculada de qualquer compromisso real com a verdade ou com a justiça.

Ao reunir reflexão filosófica rigorosa e experiência concreta de perseguição, Mascaro transforma sua própria trajetória em objeto crítico, reafirmando que o enfrentamento da mentira não se dá por moralismos ou apelos abstratos à verdade, mas pela crítica radical às estruturas sociais que a produzem. Como conclui no artigo, “a mentira de um tempo histórico só se vence com a superação desse próprio tempo histórico”, apontando para a necessidade de transformação profunda das condições materiais que sustentam a falsidade institucionalizada.

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