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Ipea prevê inflação controlada e queda nos juros em 2026

Estudo indica IPCA em desaceleração, crescimento moderado da economia e mercado de trabalho ainda resiliente no próximo ano

Moedas de real (Foto: REUTERS/Bruno Domingos)

247 - A economia brasileira deve atravessar 2026 com inflação controlada, viés de desaceleração dos preços e possibilidade de início de um ciclo de redução da taxa básica de juros, segundo avaliação mais recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O diagnóstico faz parte da Visão Geral da Conjuntura, divulgada nesta semana, que analisa o desempenho macroeconômico do país e atualiza projeções para crescimento, inflação, mercado de trabalho e finanças públicas.

O estudo foi elaborado pelo Grupo de Conjuntura da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) do Ipea e aponta um cenário de “pouso suave” da economia, marcado por perda gradual de fôlego da demanda interna, sem ruptura abrupta da atividade.

Na avaliação do instituto, a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025 foi revisada de 2,2% para 2,3%, refletindo principalmente a atualização dos dados do IBGE sobre o desempenho do primeiro trimestre. Para 2026, a estimativa foi mantida em 1,6%, indicando expansão mais moderada da atividade econômica.

As projeções de inflação passaram por revisão para baixo. A estimativa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2025 foi reduzida de 4,8% para 4,4%. A queda ocorre apesar do aumento esperado nos preços administrados, cuja alta projetada passou de 4,7% para 5,2%, impulsionada principalmente por reajustes mais intensos nas tarifas de energia elétrica.

Por outro lado, houve forte revisão para baixo nas estimativas de inflação dos alimentos consumidos no domicílio, que recuaram de 4,4% para 2,1%, e dos bens industriais, de 3,1% para 2,4%. Segundo o Ipea, esse movimento reflete um cenário mais favorável para a taxa de câmbio. A inflação de serviços livres, por sua vez, foi mantida em 6,2%, ainda em patamar elevado.

No caso do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), utilizado como referência para reajustes salariais e benefícios, a projeção para 2025 caiu de 4,5% para 4%. Embora os preços administrados tenham sido revisados para cima, de 4,5% para 5,1%, a desaceleração dos alimentos e dos bens industriais compensou essa pressão.

Para 2026, o cenário traçado pelo Ipea prevê inflação em desaceleração, ainda que de forma mais lenta. A projeção é de alta de 4,2% no IPCA, com preços administrados crescendo 3,8%. Alimentos e bens industriais devem registrar variações de 4,2% e 2,6%, respectivamente, enquanto os serviços permanecem como principal foco de pressão, com inflação estimada em 5,7%, embora já com sinais de arrefecimento.

No INPC, a inflação projetada para 2026 é de 3,8%, influenciada sobretudo pela alta dos alimentos no domicílio e dos serviços, além de bens industriais e preços administrados em patamares mais moderados.

O documento também destaca que o PIB do terceiro trimestre de 2025 cresceu 0,1% em relação ao trimestre anterior, na série dessazonalizada. Na comparação anual, a alta foi de 1,8%, ligeiramente acima do projetado anteriormente. Em novembro, a inflação acumulada em 12 meses atingiu 4,5%, pressionada principalmente pelos serviços livres e pelos preços administrados, enquanto alimentos e bens industriais apresentaram variações mais contidas.

Apesar desse movimento, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve, na ata divulgada em novembro, a avaliação de que a inflação segue pressionada pela demanda, justificando a manutenção de uma política monetária restritiva por período prolongado. Para o Ipea, os efeitos defasados dos juros elevados continuam limitando o investimento privado e encarecendo o crédito ao consumo, o que contribui para a desaceleração da atividade.

Ainda assim, a Dimac avalia que 2026 pode marcar o início de um ciclo de flexibilização monetária, possivelmente ao longo do primeiro semestre, embora ainda haja incertezas quanto ao ritmo e à intensidade dos cortes. Antes mesmo de eventuais reduções nominais, a desaceleração da inflação tende a elevar os juros reais, mantendo o viés contracionista no curto prazo. O fato de se tratar de um ano eleitoral também adiciona volatilidade ao cenário.

No mercado de trabalho, os dados mais recentes indicam manutenção de uma situação considerada confortável, apesar de sinais de perda de fôlego. A taxa de desocupação medida pela PNAD Contínua ficou em 5,4% no trimestre encerrado em outubro de 2025, abaixo do registrado um ano antes. Na série dessazonalizada, o desemprego atingiu 5,6%, o menor nível da série histórica.

Após alcançar o recorde de 102,4 milhões de pessoas ocupadas no trimestre encerrado em julho, o total recuou levemente para 102 milhões entre agosto e outubro. A desaceleração está concentrada principalmente no emprego informal, enquanto o número de trabalhadores com carteira assinada segue crescendo, ainda que em ritmo menor.

Os dados do Novo Caged reforçam essa tendência. Entre janeiro e outubro de 2025, foram abertas cerca de 1,8 milhão de vagas formais, abaixo do volume registrado no mesmo período de 2024. Ainda assim, o estoque de trabalhadores com carteira assinada chegou a 46 milhões, com crescimento anual de 2,8%.

O estudo também analisa a participação dos jovens no mercado de trabalho, apontando queda significativa, especialmente entre adolescentes de 14 a 17 anos. A principal explicação é o aumento do tempo dedicado aos estudos, movimento que tem elevado o nível de escolaridade da população jovem e pode contribuir para ganhos de produtividade no médio e longo prazos.

No campo das finanças públicas, o déficit primário acumulado do governo central chegou a R$ 75,7 bilhões até novembro de 2025, acima do registrado no mesmo período do ano anterior. No entanto, no acumulado de 12 meses, o resultado foi melhor, com redução expressiva do déficit em relação a 2024. A receita primária apresentou crescimento real, impulsionada principalmente pela arrecadação administrada pela Receita Federal e pelas contribuições ao RGPS, enquanto as despesas cresceram em ritmo semelhante.

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