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Mercado aposta em Selic a 15% na última reunião do Copom em 2025

Cortes começariam apenas em 2026

São Paulo (SP) - 11/08/2025 - O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

247 – O mercado financeiro projeta que o Copom (Comitê de Política Monetária) encerrará 2025 mantendo a taxa básica de juros em 15% ao ano, apesar da fraqueza recente do PIB. A avaliação foi publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, que ouviu economistas às vésperas da última reunião do ano, marcada para 10 de dezembro.

Embora a manutenção da Selic seja consenso entre os analistas, cresce a expectativa de que o Banco Central mude o discurso e abra caminho para reduções a partir de 2026. As apostas para o início do ciclo de cortes se dividem entre janeiro e março do próximo ano. Caso o cronograma se confirme, novas críticas de integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de empresários devem recair sobre a autoridade monetária. O ministro Fernando Haddad (Fazenda) tem reiterado que o atual patamar de juros, o mais alto em quase duas décadas, é “insustentável”.

Economia mais fraca reforça pressão por flexibilização

O discurso de Haddad ecoa a pressão feita por Lula, que indicou Gabriel Galípolo ao comando do BC. Na visão de Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e presidente do conselho da Jive Investments, a tendência é que os cortes comecem “na largada de 2026”.

O economista destaca que o BC segurou os juros elevados para esfriar a atividade e conter a inflação, mas o cenário atual já mostra desaceleração. O PIB cresceu apenas 0,1% no terceiro trimestre, segundo o IBGE.
“De fato, estamos com a economia, principalmente a parte mais sensível à taxa de juros, mais comedida”, afirma Figueiredo, lembrando que o setor de serviços está estável.

Ele acrescenta que o ideal seria que o Banco Central evitasse movimentos bruscos em ano eleitoral:
“Perto de eleição, o ideal é o Banco Central não ter que fazer nada.”

Melhora das expectativas de inflação abre janela para primeiros cortes

Para Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, já passou da hora de o Copom suavizar o tom e encerrar o adiamento da discussão sobre cortes. Ela aponta a melhora das expectativas de inflação como fator decisivo para iniciar a flexibilização em janeiro.

O boletim Focus reduziu a estimativa de inflação de 2025 para 4,43%, colocando-a de volta dentro do teto da meta. As projeções de 2026 recuaram ligeiramente para 4,17%, e as de 2027 se mantiveram em 3,8%.

Vitória afirma que o BC precisa olhar para a inflação projetada à frente e lembra que a política monetária segue contracionista mesmo após os primeiros cortes.
“Mesmo que ele [Copom] comece os cortes de juros, você ainda vai ter restrição monetária”, afirma.
Ela avalia que o primeiro semestre de 2026 oferece melhores condições para continuidade do ciclo. A economista mencionou a alta de 2,33% do dólar, que fechou a R$ 5,434 após Flávio Bolsonaro anunciar sua pré-candidatura presidencial a convite de Jair Bolsonaro, como exemplo da volatilidade eleitoral.

Choque cambial adia flexibilização e reforça cautela

O movimento abrupto no câmbio também preocupa Sergio Werlang, ex-diretor do Banco Central e professor da FGV EPGE. Ele afirma que o episódio antecipou um risco previsto apenas para 2026 e deve levar o Copom a uma postura mais conservadora.
“Isso atrasa muito a queda de juros. Eles vão atrasar, com mais tranquilidade, para janeiro”, diz.

Werlang considera que, antes da turbulência, seria possível votar por um corte já em dezembro. Mas alerta que, se o início do ciclo for adiado demais, será necessário acelerar o ritmo depois:
“Se deixarem esse corte para março, eles vão ter que cortar 0,5 ou 0,75 ponto percentual.”

Parte do mercado vê cortes só em março

O economista Gustavo Rostelato, da Armor Capital, acredita que o Copom adotará uma postura mais conservadora e iniciará o ciclo apenas em março de 2026. Ele cita a estagnação das expectativas de inflação e a piora sazonal do câmbio como fatores que impedem um movimento antecipado.

Embora considere o dado fraco do PIB um “sinal amarelo”, ele defende que o BC observe o conjunto dos indicadores. A taxa de desemprego caiu para 5,4%, o menor nível da série iniciada em 2012.
“Há espaço para que exista resiliência dessa atividade econômica, embora o dado do PIB tenha sido, de fato, mais fraco”, afirma.

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