Gaspari detona Alcolumbre e Hugo Motta
Colunista critica crise artificial criada no Congresso e aponta retrocesso institucional
247 – O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, desencadeou uma crise artificial com o Planalto ao reagir contra a escolha do advogado-geral da União, Jorge Messias, para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal. As análises são do jornalista Elio Gaspari, em sua coluna publicada pelo jornal Folha de S.Paulo.
Gaspari destaca que a prerrogativa de nomear ministros do STF é exclusiva do presidente da República e que Lula apenas exerceu seu direito constitucional ao indicar Messias. Alcolumbre, no entanto, queria ver o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco no posto. Segundo o colunista, a contrariedade do senador não encontra respaldo institucional: trata-se apenas de “manha pueril”.
O jornalista recorda episódios históricos para ilustrar a autonomia presidencial nas indicações. Ele menciona o caso de 1967, quando o marechal Castello Branco comunicou a Ernesto Geisel a escolha de Adauto Lúcio Cardoso para o Supremo. Geisel reagiu mal, mas o episódio só se tornou público décadas depois, demonstrando que contrariedades pessoais não podem se sobrepor ao rito constitucional.
Gaspari lembra que, assim como cabe ao presidente indicar, cabe ao Senado decidir se aprova ou rejeita o nome. Messias precisa de 41 votos e, caso não os obtenha, prevalece a escolha da maioria. Antes disso, enfrentará sabatina, oportunidade para que eventuais críticas sejam apresentadas abertamente. O colunista ressalta que até mesmo Rosa Weber, posteriormente consagrada por sua atuação no 8 de Janeiro, enfrentou uma sabatina dura antes de ser aprovada.
O texto observa ainda que “é falta de educação dizer que Messias tem mais currículo e conduta do que pelo menos dois ministros da corte”. Gaspari lembra que o próprio Alcolumbre já segurou por meses a indicação de André Mendonça, que hoje é considerado por setores do STF um dos ministros mais consistentes da corte.
O jornalista relata que Alcolumbre se irritou com críticas — e falsidades — que circularam contra ele na blogosfera. Aponta que o PT poderia recomendar “boas maneiras” aos seus apoiadores mais agressivos, mas observa que isso faz parte da vida pública.
O colunista afirma que a crise se agravou quando Alcolumbre rompeu com o líder do governo no Senado, Jaques Wagner, conhecido por sua postura afável. Em paralelo, o presidente da Câmara, Hugo Motta, também entrou em choque com o líder do PT na Casa. Para Gaspari, o resultado é que “uma instituição bicentenária, o Parlamento brasileiro, regrediu para arrufos de adolescentes”.
O senador já havia travado outra disputa com setores do governo em torno da exploração de petróleo na Margem Equatorial, da qual saiu vitorioso “cavalheirescamente”, segundo Gaspari. Mas, ao criar caso com Messias e ao “avacalhar um ritual estabelecido e respeitado”, ultrapassou limites institucionais. Sua reação resultou inclusive no desengavetamento e na aprovação de uma pauta-bomba.
Gaspari conclui que se trata de muita crise para pouco motivo. Em sua visão, tensões desse tipo apenas fortalecem intermediários que se oferecem como pacificadores — cobrando caro pela mediação.



