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Tempo para trocar Flávio Bolsonaro por Tarcísio se estreita, diz Celso Rocha de Barros

Articulista afirma que carta de Natal de Jair Bolsonaro expõe impasse na direita e pode enterrar plano presidencial do governador de São Paulo em 2026

Tarcísio de Freitas e Flávio Bolsonaro (Foto: Pablo Jacob /Governo do Estado de SP | Jefferson Rudy/Agência Senado)

247 – A carta de Natal publicada por Jair Bolsonaro reacendeu a crise na direita e reforçou a leitura de que o ex-presidente não pretende abrir mão do controle sobre a sucessão de 2026. Ao reafirmar que pretende apoiar Flávio Bolsonaro, Jair frustra expectativas do centrão e de setores do mercado que vinham apostando na construção de um caminho mais “viável” eleitoralmente, com Tarcísio de Freitas como alternativa consolidada à Presidência.

A análise é do colunista Celso Rocha de Barros, em artigo publicado na Folha de S.Paulo. Segundo ele, a carta pode soar como “notícia velha”, já que Jair “já tinha anunciado que apoiaria Flávio em 2026”. Mas o ponto central, diz, é justamente a ausência de mudança: “Nada mudou, o centrão esperava que tivesse mudado, e o tempo está passando”.

No texto, Celso chama atenção para o calendário político. Com recesso parlamentar, seguido pelo Carnaval, a política tende a desacelerar e só retomar ritmo pleno quando o tempo para uma troca de candidatura já estiver curto. “Quando a política brasileira voltar a funcionar a pleno vapor, vai haver pouco tempo para trocar Flávio Bolsonaro por Tarcísio de Freitas”, escreveu o colunista. Isso ocorre porque a janela para o governador paulista decidir se deixará o Governo de São Paulo para disputar o Planalto ficará “bem em cima do prazo”.

A carta de Natal é tratada pelo articulista como símbolo de uma “fantasia de grandeza” do ex-presidente. Celso registra que Jair comparou sua decisão de tentar “arrumar para Flávio uma boquinha de presidente” com a decisão de Deus de entregar seu filho ao martírio. O colunista ironiza, ainda, a hipótese de que Bolsonaro tenha embarcado nessa narrativa após o ator Jim Caviezel, conhecido por interpretar Jesus em A Paixão de Cristo, ter sido escolhido para interpretá-lo no filme Dark Horse, descrito no artigo como uma espécie de “Cinderela Baiana” fascista dirigida pelo ex-ministro da Cultura Mário Frias.

Mensagem de Natal de Michelle

Além do impasse político, o texto da Folha sugere que a disputa pelo protagonismo no bolsonarismo pode se tornar ainda mais conflituosa. Celso destaca que a carta de Jair foi publicada ao mesmo tempo que a mensagem de Natal de Michelle Bolsonaro, que reclamou da “traição das pessoas mais próximas”. Para o colunista, a fala parece apontar para o enteado Flávio Bolsonaro, o que sugere uma guerra interna antes mesmo de qualquer movimentação contra Tarcísio.

Celso escreve que, nesse cenário, Flávio e Michelle ainda precisarão se enfrentar – “na semifinal” – antes de chegar à disputa final contra o governador de São Paulo. O problema, na visão do articulista, é que essa briga interna consome tempo e torna o caminho de Tarcísio cada vez mais estreito. “Na data prevista para a final, Tarcísio terá que escolher entre uma competição fácil de ganhar e outra bem mais arriscada”, afirma.

Por isso, diz Celso, muitos observadores “bem-informados” interpretaram a carta como o “obituário” da candidatura presidencial de Tarcísio em 2026. Ainda assim, ele pondera: “É cedo para cravar”. Mas o alerta é claro: o tempo político está correndo, e a indecisão pode custar caro a quem tenta se apresentar como opção viável dentro da direita.

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