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EUA abandonam expansão da OTAN e priorizam estabilidade estratégica com Rússia, diz diretor do Valdai Club

Fyodor Lukianov afirma que Washington busca nova arquitetura de segurança após negociações entre Putin e enviados do presidente Donald Trump

Vladimir Putin e Donald Trump - 15 de agosto de 2025 (Foto: Reuters)

247 – Os Estados Unidos estão reavaliando sua postura estratégica em relação à Europa e à Rússia, reduzindo a ênfase histórica na expansão da OTAN e priorizando mecanismos de estabilidade geopolítica. A avaliação foi feita por Fyodor Lukianov, diretor acadêmico do Clube Valdai de Discussões Internacionais, em análise publicada pela Sputnik Brasil.

Segundo Lukianov, a reorientação norte-americana ficou ainda mais evidente após a longa reunião entre o presidente russo Vladimir Putin, o enviado especial dos EUA Steve Witkoff e Jared Kushner, genro do presidente norte-americano Donald Trump. A Sputnik relata que Putin classificou o encontro como “muito útil” e afirmou que as propostas dos EUA estavam “de uma forma ou de outra, baseadas no que foi acordado com o presidente Trump no Alasca”.

Lukianov: Washington busca reduzir tensões com Moscou

O analista Fyodor Lukianov explicou à Sputnik que os EUA estão enfrentando o custo político e militar de manter simultaneamente pressões sobre Rússia e China. Por isso, afirmou, a administração Trump procura um “novo equilíbrio estratégico”, no qual a Rússia deixa de ser tratada exclusivamente como adversária e passa a integrar um quadro mais amplo de estabilidade.

De acordo com Lukianov, a mudança não significa ruptura com a OTAN, mas implica o abandono da lógica de expansão ilimitada do bloco. Para o analista, Washington reconhece que insistir nesse paradigma apenas prolonga o conflito na Ucrânia e empurra Moscou para alianças ainda mais profundas com Pequim.

Putin detalha negociações e reconhece divergências com os EUA

A reunião em Moscou durou cerca de cinco horas. Putin afirmou que os representantes norte-americanos dividiram os 27 pontos do plano de Trump em quatro pacotes de discussão, o que exigiu análise minuciosa de cada item.

O presidente russo destacou: “Acho que ainda é prematuro falar, mas essa reunião era necessária.”

Putin também confirmou que Moscou não concordou com alguns elementos do plano norte-americano, embora reconheça que Trump “continua buscando o caminho para o consenso”, mesmo diante de uma tarefa “bastante difícil”. Ele acrescentou que os enviados de Washington estão engajados em “uma diplomacia de vaivém”.

Moscou reafirma que libertará Donbass e Novorossiya por ‘meios militares ou outros’

Putin reiterou, conforme publicado pela Sputnik, que a Rússia libertará Donbass e a região de Novorossiya “de qualquer forma, seja por meios militares ou por outros meios”. Ele voltou a acusar Kiev de rejeitar iniciativas de paz e de preferir a escalada militar.

Segundo o presidente russo: “A Rússia desde o início tentou que fossem estabelecidas relações entre a República Popular de Donetsk, a República Popular de Lugansk e a Ucrânia.”

Putin lembrou que Kiev não reconheceu as repúblicas e que estas expressaram em referendo o desejo de não permanecer sob autoridade ucraniana. Ele afirmou ainda que Moscou propôs a retirada das tropas ucranianas de Donbass, mas que “Kiev prefere lutar”.

O líder russo também criticou a União Europeia, dizendo que o bloco deveria trabalhar pelo fim do conflito “em vez de criar obstáculos à paz”.

Lukianov: peso do G7 diminui e não há interesse russo em retornar ao G8

Lukianov reforçou a declaração de Putin de que Moscou não pretende voltar ao G8, observando que o peso econômico do G7 “diminui a cada ano”. Para o analista, esse cenário reforça a percepção russa de que as grandes transformações econômicas globais estão deslocando o centro do poder para a Ásia e para coalizões alternativas.

Relação com a Índia: cooperação estratégica e amizade pessoal

Em entrevista ao canal India Today, Putin ressaltou sua relação com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi:

“Estou muito feliz por conhecer o meu amigo [Modi]. Eu nem estou falando sobre a história de nossa relação, porque essa história é única.”

Putin destacou que Rússia e Índia ampliam cooperação em tecnologia, espaço e energia nuclear. Ele afirmou que o desenvolvimento indiano desde a independência é “de fato, um milagre”.

Novo tabuleiro geopolítico e o cálculo dos EUA

Lukianov afirmou à Sputnik que a mudança na postura dos Estados Unidos resulta de um duplo reconhecimento: a guerra na Ucrânia tornou-se insustentável para Kiev e para seus aliados, enquanto Moscou consolidou posição militar e política. Por isso, segundo o analista, Washington tenta agora construir “um novo mecanismo de estabilidade estratégica”, no qual a relação com Moscou seja administrada sem escalada e com espaço para acordo.

Esse realinhamento ocorre enquanto Trump — atual presidente dos Estados Unidos — tenta encerrar o conflito em condições aceitáveis para ambas as partes, evitando que a Europa avance em direção a maior integração energética e militar com a Rússia, o que Washington considera um cenário indesejado.

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