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Na mira de Toffoli e do TCU, Galípolo traça cenário que prevê até BC investigado pela intervenção no Master

Banco Central diz ter identificado fraude bilionária no Banco Master, prepara reação jurídica e se mobiliza para explicar liquidação ao Supremo

Presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, durante coletiva de imprensa, em Brasília - 27/03/2025 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

247 – A direção do Banco Central (BC) avalia que entrou em um terreno de alto risco institucional após decretar a liquidação do Banco Master, em 18 de novembro, e passou a operar sob pressão de diferentes frentes de poder. Integrantes da autarquia enxergam o momento como um ataque direto à credibilidade do órgão e, diante das reações, já traçam um cenário que inclui até a hipótese de o BC ser colocado no centro das investigações sobre o caso.

As informações foram publicadas pela Folha de S.Paulo, que relata que os atuais membros do comando do BC calculam os próximos passos diante de questionamentos de outras autoridades sobre a decisão. A autarquia prepara-se para um embate jurídico destinado a sustentar as medidas adotadas no âmbito da fiscalização e, ao mesmo tempo, para neutralizar iniciativas que possam reverter a intervenção ou redefinir o Banco Central como alvo investigativo.

Nos bastidores, dirigentes demonstram confiança na decisão por afirmarem ter verificado números e documentos do Banco Master que, segundo eles, confirmariam uma fraude bilionária em seus balanços. Investigadores sustentam que o banco teria fabricado cerca de R$ 12 bilhões em créditos falsos, que depois teriam sido repassados ao BRB (Banco de Brasília). Procurados por meio da assessoria de imprensa, BC e Master não comentaram.

O Banco Central afirma ter encontrado no Master não apenas problemas de liquidez, mas também “graves violações” às normas do sistema financeiro. A fragilidade estaria concentrada especialmente em ativos de crédito considerados, na prática, inexistentes. A apuração, segundo o relato, demandou meses de análise e reuniões com representantes do banco, antes da decisão final.

A liquidação foi anunciada um dia depois de Daniel Vorcaro se reunir com o BC e comunicar que viajaria ao exterior para fechar um acordo com novos compradores: a Fictor, empresa descrita como pouco conhecida no setor, em parceria com investidores dos Emirados Árabes cuja identidade não foi revelada. Vorcaro foi preso no mesmo dia da reunião, quando tentava embarcar em um jatinho. A defesa do banqueiro alegou que a viagem serviria para assinar o negócio com os árabes, mas, para a Polícia Federal, o deslocamento poderia facilitar uma fuga do país. Ele foi solto dez dias depois por decisão de uma juíza federal.

Mesmo afirmando ter todos os elementos que comprovariam a correção da atuação, a direção do BC enxerga risco de questionamento judicial com base no argumento de que existiria um plano de reestruturação pronto, o que tornaria a liquidação desnecessária. O Banco Central, porém, considera que as fraudes apontadas pelos investigadores enfraquecem essa tese e sustentam a gravidade da decisão.

STF convoca acareação e pode levar BC ao centro do caso

O episódio agora avança para o Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Dias Toffoli marcou para a próxima terça-feira (30) uma acareação envolvendo personagens centrais do caso. A audiência será entre Daniel Vorcaro, Ailton de Aquino (diretor de Fiscalização do BC) e Paulo Henrique Costa (ex-presidente do BRB, banco estatal do Distrito Federal que negociou a compra do Master, barrada pelo BC).

A convocação surpreendeu parte da comunidade jurídica por se tratar de um mecanismo usado normalmente para confrontar versões divergentes após depoimentos prévios — algo que, segundo a reportagem, não ocorreu, já que Toffoli não colheu depoimentos individuais dos envolvidos antes de convocar a acareação.

Toffoli conduz o caso em um processo sigiloso e, desde o início de dezembro, diligências e medidas relacionadas à investigação sobre o Master e Vorcaro passaram a depender do seu aval, por determinação do próprio ministro. Conforme publicado pela Folha, a acareação terá como foco justamente a atuação do Banco Central, o que pode deslocar o órgão regulador para o centro do inquérito.

A expectativa é que Toffoli busque esclarecer, entre outros pontos, quando o BC tomou conhecimento das suspeitas sobre o Master, quais foram as medidas adotadas na fiscalização do mercado de títulos bancários e se houve falhas no processo. Até o momento, segundo a reportagem, o ministro não deu sinais de que pretende anular a liquidação.

O caso chegou ao STF após pedido da defesa de Vorcaro, depois que a Polícia Federal encontrou, em uma busca e apreensão, um envelope com documentos sobre um negócio imobiliário relacionado ao deputado João Carlos Bacelar (PL-BA).

Pressões externas e constrangimentos no STF ampliam tensão institucional

O episódio também vem gerando constrangimentos ao próprio Supremo. Segundo a reportagem, no fim de novembro, no mesmo dia em que a Justiça determinou a soltura do banqueiro, Toffoli embarcou em um jatinho para Lima, acompanhado do advogado de um diretor do Master, para assistir a um jogo de futebol. Além disso, o texto menciona que um escritório ligado à família do ministro Alexandre de Moraes mantém contratos milionários com o banco.

Esses elementos, somados ao avanço do caso no STF, ampliam a percepção de tensão institucional em torno do processo, levando o Banco Central a reforçar a defesa pública e técnica de sua decisão.

TCU cobra explicações e diz que medida pode ter sido “extrema”

Paralelamente ao STF, o Tribunal de Contas da União (TCU) abriu apuração sobre o episódio. O ministro Jhonatan de Jesus determinou que o BC apresente explicações e sugeriu que a decisão da autarquia pode ter sido extrema e precipitada, sem que, até agora, houvesse objeção de outros ministros do tribunal.

Segundo o despacho, a atuação do Banco Central indicaria que a instituição pode ter demorado a buscar alternativas de mercado para o Master e que poderia ter considerado soluções menos onerosas. O BC, por sua vez, já teria formulado resposta ao tribunal e se prepara para defender que a intervenção se justificou diante do grau das irregularidades encontradas.

BC prepara ofensiva jurídica e aposta em sustentação técnica

Diante desse conjunto de pressões — STF, TCU e questionamentos de outras autoridades — dirigentes do Banco Central trabalham com a possibilidade de uma escalada do conflito. Nos bastidores, o cenário mapeado inclui desde disputas jurídicas intensas para preservar a liquidação até o risco de tentativas de reposicionar o BC como investigado, e não apenas como órgão que agiu no exercício de suas funções regulatórias.

O comando da autarquia, porém, sustenta que a decisão de liquidar o Master foi baseada em evidências concretas e que os dados verificados apontariam para uma fraude de grandes proporções, que comprometeria o sistema financeiro e justificaria uma resposta dura. Com isso, o Banco Central se prepara para transformar o caso Master em uma disputa institucional decisiva, com impacto direto sobre a autonomia do regulador e sobre os limites da atuação de outros órgãos de poder diante das ações de fiscalização do sistema bancário.

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