Vorcaro tinha contatos de ministros do STF e cúpula do Congresso
Documento da CPI do INSS aponta ministros, senadores e deputados na lista telefônica do dono do Banco Master
247 - Conhecido em Brasília por exibir proximidade com figuras centrais do poder, o empresário Daniel Vorcaro, controlador do Banco Master, mantinha em seu telefone uma extensa lista de contatos que inclui ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e integrantes do alto escalão do Congresso Nacional. O material passou a ser analisado após a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telemático do banqueiro no âmbito das investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do INSS. As informações são do jornal O Globo.
A CPI recebeu um arquivo contendo a agenda telefônica registrada no aparelho de Vorcaro. O levantamento identificou pelo menos três ministros do STF, cinco senadores, cerca de 20 deputados federais e um governador entre os contatos. O documento não apresenta registros de mensagens ou ligações, apenas a listagem de números armazenados. Procurado, Vorcaro não se manifestou.
Entre os nomes que aparecem na agenda está o do ministro do STF Dias Toffoli, responsável por conduzir na Corte a investigação sobre supostas irregularidades envolvendo o Banco Master. Toffoli viajou em um jato particular a Lima, no Peru, acompanhado do advogado de um diretor da instituição financeira. Dias após a viagem, o ministro decretou o sigilo do inquérito e determinou que todas as apurações relacionadas ao banco passassem a tramitar no Supremo.
Na sexta-feira seguinte, Toffoli retirou da CPI o acesso integral aos dados obtidos com as quebras de sigilo, incluindo informações financeiras e mensagens de WhatsApp. Em nota, o gabinete do ministro informou que a defesa do empresário havia solicitado a anulação das medidas, pedido que foi negado. Em vez disso, Toffoli determinou que o material fosse encaminhado ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e mantido sob guarda da presidência da Casa até nova deliberação do STF.
O presidente da CPI do INSS, senador Carlos Viana (Podemos-MG), classificou a decisão judicial como “grave”, afirmando que ela “enfraquece a investigação” e “amplia a desconfiança da sociedade”. Alcolumbre, que também figura na agenda de Vorcaro, não comentou o assunto.
Foi no Senado que, em 2024, ocorreu um debate legislativo que poderia ter favorecido o Banco Master durante seu processo de expansão. O senador Ciro Nogueira (PP-PI), cujo nome consta na lista de contatos do banqueiro, apresentou uma emenda à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da autonomia financeira do Banco Central. A sugestão elevava de R$ 250 mil para R$ 1 milhão a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para aplicações como Certificados de Depósito Bancário (CDBs), principal produto do banco. A proposta, conhecida nos bastidores como “emenda Master”, acabou não sendo incorporada ao texto final. À época, Nogueira negou intenção de beneficiar a instituição e, agora, não se manifestou.
Outro ministro do STF citado na agenda é Alexandre de Moraes, que também não comentou. Agentes da Polícia Federal encontraram no celular de Vorcaro um contrato de prestação de serviços entre o Banco Master e o escritório da advogada Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro. O documento previa remuneração mensal de R$ 3,6 milhões.O ministro Kassio Nunes Marques, igualmente listado na agenda, afirmou ao O Globo que não mantém qualquer relação com Vorcaro. Segundo ele, seu contato ficou amplamente divulgado após a sabatina no Senado, em 2020, o que explicaria a presença do número em agendas de pessoas desconhecidas.
No Legislativo, aparecem os nomes do atual presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e de seu antecessor, Arthur Lira (PP-AL). Motta não se pronunciou. Lira declarou que não possui relação com o empresário e que nunca falou com ele por telefone, lembrando apenas de dois “encontros institucionais”.
Vorcaro é considerado peça central nas investigações sobre um suposto esquema de fraudes envolvendo a concessão de créditos falsos e crimes contra o sistema financeiro. Ele chegou a ficar preso por nove dias e foi solto com o uso de tornozeleira eletrônica. A apuração da Polícia Federal aponta indícios de que uma operação financeira de R$ 12,2 bilhões teria sido articulada por “pura camaradagem”, numa “tentativa de abafar a fiscalização” do Banco Central. Em novembro, o BC decretou a liquidação do Banco Master.
Antes de se tornar alvo das investigações, Vorcaro costumava destacar, em conversas com interlocutores, a relevância de sua rede de relações políticas. Ele afirmava ter feito “fortes amigos” em Brasília e dizia que, sem esse tipo de proteção, não teria alcançado o mesmo espaço no sistema financeiro.
Um dos episódios relatados pelo próprio banqueiro envolvia as negociações com o Banco de Brasília (BRB) para a compra do Master. Segundo ele, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), teria procurado um aliado político para obter referências sobre seu histórico e recebido avaliações positivas, o que ajudou a destravar o negócio de R$ 12,2 bilhões. Ibaneis aparece na lista de contatos, mas negou a versão. “Ele estava vendendo o banco para o BRB. Nada mais natural que tivesse meu telefone”, afirmou o governador.
Além da agenda telefônica, Vorcaro utilizava uma residência de alto padrão em Brasília como espaço de convivência com autoridades. Em 2024, ele adquiriu por R$ 36 milhões uma mansão de 1.700 metros quadrados, em condomínio fechado com vista para o Lago Paranoá. O imóvel se tornou ponto de encontro de parlamentares e outras figuras influentes da capital federal.



