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Após deixar milhões sem luz e provocar caos aéreo em todo o País, Enel parte para a baixaria e ataca o prefeito de São Paulo

Advogado da concessionária ineficiente compara Ricardo Nunes a “marido traído”, enquanto empresa acumula apagões e pode perder a concessão

Após deixar milhões sem luz e provocar caos aéreo em todo o País, Enel parte para a baixaria e ataca o prefeito de São Paulo (Foto: ABR | Reuters)

247 – A Enel, concessionária responsável pelo fornecimento de energia elétrica em São Paulo, decidiu reagir ao colapso que provocou na maior cidade do país não com autocrítica ou pedido de desculpas, mas com agressões verbais de baixo nível contra o prefeito Ricardo Nunes (MDB). Após deixar mais de 2,2 milhões de imóveis sem luz no pico do apagão e manter centenas de milhares de famílias às escuras por dias, a empresa partiu para o ataque pessoal como estratégia de defesa.

A informação foi publicada nesta sexta-feira em nota da jornalista Monica Bergamo. Em declaração à coluna, o advogado Henrique Ávila, sócio do escritório Bermudes Advogados e representante da Enel, comparou o prefeito a “um marido traído que culpa o sofá”, numa fala que escancara o desespero e a irresponsabilidade institucional da concessionária diante de uma crise que ela própria produziu.

“O prefeito age como o marido traído que coloca a culpa no sofá. Ele que assuma suas responsabilidades e reconheça que o caos se instalou em razão do não cumprimento das suas obrigações de podas de árvores”, afirmou o advogado, numa tentativa grosseira de transferir à Prefeitura a culpa por uma sucessão de falhas estruturais da Enel.

A declaração não apenas desrespeita o chefe do Executivo da maior cidade do país, como afronta diretamente a população paulistana, que sofreu com apagões prolongados, trânsito em colapso, interrupções no abastecimento de água e caos nos aeroportos de Congonhas e Guarulhos. Um caos, diga-se de passagem, que afetou o País inteiro, com voos que tinham São Paulo como destino cancelados em várias cidades.

Apagão, caos urbano e colapso aéreo

O apagão teve início após um forte vendaval provocado por um ciclone extratropical que atingiu a região metropolitana de São Paulo na quarta-feira (10). Ventos de até 98 km/h expuseram, mais uma vez, a fragilidade da rede elétrica operada pela Enel.

No auge da crise, 2,2 milhões de imóveis ficaram sem energia. Mesmo dois dias depois, mais de 700 mil ainda permaneciam às escuras. Mais de 200 semáforos ficaram inoperantes, o sistema de abastecimento de água foi afetado em áreas atendidas pela Sabesp e cerca de 400 voos foram cancelados ou atrasados nos principais aeroportos do país.

Nada disso, porém, foi suficiente para levar a Enel a reconhecer sua responsabilidade. Ao contrário: a empresa preferiu atacar o prefeito e culpar a Prefeitura por supostas falhas na poda de árvores, ignorando que eventos climáticos extremos são previsíveis e exigem planejamento, investimento e modernização da rede — obrigações centrais de qualquer concessionária de energia.

Nunes pede fim da Enel em São Paulo

Diante do colapso recorrente, Ricardo Nunes afirmou que o limite foi ultrapassado. Em entrevista à GloboNews, relatou ter conversado com o governador Tarcísio de Freitas e com parlamentares para discutir a substituição da Enel.

“Chegou no ponto de dar um basta e virar essa página e colocar aqui uma empresa que possa atender a população”, afirmou o prefeito. Segundo ele, o próximo passo será levar a demanda ao Governo Federal, responsável pela concessão.

Nunes foi ainda mais direto ao defender uma intervenção. “Chegou num limite, aliás já passou. Nós extrapolamos o limite para que tenha uma intervenção nessa empresa e que seja substituída por uma empresa que dê atendimento à população”, disse.

A fala do prefeito encontra respaldo nos fatos. Em agosto, a Prefeitura ingressou com ação na Justiça Federal para impedir a renovação antecipada da concessão da Enel, que vence em 2028. O pedido foi aceito, e a renovação foi suspensa em outubro, obrigando o governo federal e a Aneel a realizarem novas análises sobre a capacidade da empresa de atender São Paulo diante dos novos desafios climáticos.

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