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Governo Lula vê avanço em negociação do tarifaço, mas tem dúvidas sobre fim de sanções contra autoridades

Encontro do chanceler Mauro Vieira com Marco Rubio reforça chances de trégua tarifária, mas medidas contra brasileiros seguem incertas

Mauro Vieira e Marco Rubio durante reunião no Canadá para discutir propostas sobre tarifas comerciais entre Brasil e Estados Unidos - 12/11/2025 (Foto: Embaixada do Brasil)

247 - O governo brasileiro viu suas expectativas crescerem após a reunião entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, realizada nesta quinta-feira (13), em Washington. A avaliação interna é de que o encontro abriu espaço para um possível avanço nas tratativas sobre o tarifaço imposto pela gestão do presidente estadunidense Donald Trump.

Segundo o jornal O Globo, as negociações ganharam fôlego a partir do recente diálogo entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)  e Donald Trump, ocorrido há duas semanas na Malásia. Vieira afirmou, após a reunião, que o encontro serviu para alinhar um marco preliminar que guiará as discussões e indicou que um entendimento provisório pode ser firmado ainda em novembro.

Reunião em Washington redefine o clima das negociações

O encontro entre Vieira e Rubio  ocorreu na sede do Departamento de Estado dos EUA e foi dividido em uma conversa reservada entre os dois representantes, seguida por uma reunião ampliada com diplomatas das duas delegações. De acordo com Mauro Vieira, o governo brasileiro já enviou a Washington uma proposta de encaminhamento no dia 4 de novembro, cujo conteúdo permanece sob sigilo. A expectativa é de que os Estados Unidos apresentem uma resposta nos próximos dias.

Interlocutores a par das negociações afirmam que o Brasil propõe duas possibilidades principais: a suspensão temporária das tarifas durante os meses de negociação — estimadas em cerca de 90 dias — ou a ampliação da lista de produtos isentos das sobretaxas.

Impacto econômico pressiona por solução rápida

O tarifaço imposto pelos Estados Unidos entrou em vigor em agosto, após Donald Trump anunciar em julho a aplicação de uma sobretaxa de 50% a produtos brasileiros. A justificativa dada pelo governo estadunidense  relacionava-se à situação judicial de Jair Bolsonaro (PL). O ex-mandatário, condenado a uma pena de 27 anos e três meses de prisão por tramar um golpe de Estado, é considerado por Trump como um aliado. 

Os efeitos foram imediatos. Produtos como carnes, pescados, frutas, café, suco de laranja e máquinas industriais passaram a ser fortemente onerados. Em 2024, o déficit comercial brasileiro com os EUA tinha sido de US$ 234 milhões. Só em outubro de 2025 — terceiro mês das tarifas — o saldo negativo saltou para US$ 1,7 bilhão. Nos dez primeiros meses do ano, o déficit já soma US$ 6,8 bilhões.

Sanções pessoais seguem como principal impasse

Ainda de acordo com a reportagem, apesar da perspectiva mais favorável para o tarifaço, o clima é diferente quando o assunto envolve as sanções aplicadas a autoridades brasileiras. Entre os alvos está o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, submetido a medidas previstas na Lei Global Magnitsky, que determinam bloqueio de bens, restrições financeiras e proibição de entrada nos Estados Unidos. As mesmas penalidades atingem sua esposa, Viviane Barci de Moraes, e o Instituto Lex, ligado à família.

Washington também ampliou sua ofensiva ao revogar vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal — Luís Roberto Barroso, Flávio Dino, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Edson Fachin — além do advogado-geral da União, Jorge Messias, e do procurador-geral da República, Paulo Gonet.

Diplomacia tenta conter avanço de contencioso

O Itamaraty argumenta que as sanções e o tarifaço carecem de justificativa econômica, já que os Estados Unidos continuam registrando superávit na balança bilateral mesmo após as sobretaxas. Brasília também busca evitar que o caso avance no âmbito da Seção 301 da Lei de Comércio americana, que envolve temas sensíveis como propriedade intelectual, comércio digital, serviços financeiros e o uso do Pix como sistema de pagamentos instantâneos.

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