Em novo artigo, Malu Gaspar acusa Toffoli de fazer a defesa de Vorcaro e Moraes de pedir pelo banco a Galípolo
Colunista registra, porém, que Moraes, ao ser alertado sobre possíveis fraudes envolvendo o Master, "disse que tudo precisava ser investigado”
247 - Um novo artigo assinado pela jornalista Malu Gaspar reacendeu o debate público em torno do caso envolvendo o Banco Master, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Banco Central. No texto desta segunda-feira (29), a colunista sustenta que decisões do ministro Dias Toffoli favoreceriam a estratégia de defesa do banqueiro Daniel Vorcaro, ao mesmo tempo em que reformula pontos centrais de narrativas anteriores, especialmente aquelas que atribuíram ao ministro Alexandre de Moraes uma suposta pressão direta sobre o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.
Publicações de Malu Gaspar, do jornal O Globo, têm sido alvo de questionamentos por se apoiarem majoritariamente em fontes anônimas, reconstruções de bastidores e relatos em off, sem a apresentação de documentos ou provas cabais que confirmem, de forma objetiva, as conclusões sugeridas.
No texto mais recente, a jornalista recua da acusação feita em 22 de dezembro, quando afirmou que Alexandre de Moraes teria procurado Galípolo “pelo menos quatro vezes para fazer pressão em favor do Banco Master”. À época, tanto Moraes quanto o presidente do Banco Central negaram a versão e explicaram que as reuniões trataram das sanções impostas a Moraes e à sua esposa, a advogada Viviane Barci de Moraes, com base na Lei Magnitsky.
Na nova coluna, Malu Gaspar altera o enquadramento e afirma que, em julho de 2025, “ocorreu uma reunião em que o ministro do STF Alexandre de Moraes pediu a Galipolo pelo Master”. Em seguida, a própria jornalista relata que, ao ser informado sobre a existência de fraudes identificadas pelo Banco Central, Moraes teria mudado de posição. “Ao ser informado por Galípolo de que o BC havia descoberto as fraudes, Moraes recuou e disse que tudo precisava ser investigado”, escreve.
Mesmo assim, a colunista volta a mencionar o contrato de prestação de serviços jurídicos entre o banco de Daniel Vorcaro e o escritório de Viviane Barci de Moraes, no valor de R$ 130 milhões. O vínculo já havia sido citado anteriormente em reportagem da Folha de S. Paulo sobre a disputa entre grandes grupos bancários em torno da operação envolvendo o Master e o Banco de Brasília (BRB).
O foco principal do novo artigo recai sobre a acareação marcada pelo ministro Dias Toffoli entre Vorcaro, o diretor de fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino, e o ex-presidente do BRB, Paulo Henrique Costa. Segundo Malu Gaspar, essa iniciativa faria parte de uma estratégia da defesa do banqueiro cujo “objetivo é minar a credibilidade do Banco Central e desmontar o trabalho que levou à liquidação do Master para revertê-la e, no limite, quem sabe até receber algum tipo de ressarcimento”.
A jornalista sugere que Toffoli estaria atuando em consonância com os interesses da defesa do Master. “Para que o estratagema dê certo, porém, é preciso criar fatos para justificar uma decisão de Toffoli contra os diretores e técnicos do BC. O histórico do ministro autoriza supor que ele tem chance de prosperar”, escreve, retomando episódios anteriores envolvendo o magistrado, como uma viagem a Lima para assistir à final da Libertadores.
No texto, Malu Gaspar também passa a questionar a atuação de Ailton de Aquino, indicado ao cargo durante o atual governo. Segundo ela, “quem mais resistiu à ideia da liquidação foi o próprio Ailton Aquino, da fiscalização”, acrescentando que, nos bastidores, ele “era visto como um aliado do Master”. A colunista afirma ainda que o diretor que mais teria domínio técnico sobre as fraudes seria Renato Dias de Brito Gomes, então responsável pela Diretoria de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do Banco Central.
De acordo com a narrativa apresentada, teria sido a área comandada por Renato Gomes que identificou irregularidades em contratos de crédito consignado que sustentaram o repasse de R$ 12,2 bilhões do BRB ao Master, antes mesmo da fusão entre os bancos. “Portanto, o integrante do BC que mais conhece as fraudes e seu mecanismo não é Aquino, e sim Gomes, que até já terminou o mandato”, afirma a jornalista.
Renato Gomes, por sua vez, é descrito como um quadro técnico apadrinhado pelo ex-presidente do Banco Central Roberto Campos Neto, durante o governo Jair Bolsonaro. Reportagens anteriores, como uma coluna publicada no portal Metrópoles, já haviam relatado resistências internas do diretor em levar o tema da liquidação ao colegiado do BC, além de especulações sobre sua futura atuação no setor privado, após o fim do mandato.
Apesar das insinuações e críticas direcionadas a ministros do STF e a dirigentes do Banco Central, o próprio artigo de Malu Gaspar reconhece um ponto central: a liquidação do Banco Master foi uma decisão técnica tomada de forma unânime pela diretoria colegiada da autarquia. “A liquidação foi decidida com a aprovação unânime da diretoria colegiada do BC, incluindo o voto sim do presidente, Gabriel Galipolo”, escreve a colunista, acrescentando que “a responsabilidade, portanto, é de toda a cúpula da autarquia”.
Esse reconhecimento reforça que, até o momento, a decisão que levou ao fim do Banco Master permanece sustentada formalmente por deliberação coletiva do Banco Central. As interpretações sobre bastidores, pressões e articulações políticas seguem no campo das versões apresentadas por fontes não identificadas, sem comprovação documental pública que confirme a existência de interferências indevidas no processo.



