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Juca Simonard

Jornalista, tradutor e professor de francês. Trabalhou como redator e editor do Diário Causa Operária entre 2018 e 2019. Auxiliar na edição de revistas, panfletos e jornais impressos do PCO, e também do jornal A Luta Contra o Golpe (tabloide unificado dos comitês pela liberdade de Lula e pelo Fora Bolsonaro).

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Explosão em Beirute vira pretexto para ataques imperialistas contra o Líbano

Após a explosão no porto de Beirute, o imperialismo aproveitou a catástrofe para atacar o Líbano. Teria o incidente sido um atentado premeditado?

Emmanuel Macron (França) no Líbano (Foto: CivilDefenseLB)
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Por Juca Simonard

A explosão no porto de Beirute, capital do Líbano, tornou-se um ponto de aprofundamento da crise política no país, que diante da ofensiva imperialista no Oriente Médio, nas últimas décadas, vive em constante instabilidade. O incidente causou a morte de mais de 150 pessoas e feriu milhares de outras. Além disso, calcula-se que cerca de 300 mil pessoas tenham ficado desabrigadas por conta da devastação da cidade e que o prejuízo econômico esteja entre U$ 10 bilhões a U$ 15 bilhões.

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Neste cenário, é natural que a crise política se reforce, uma vez que a catástrofe humanitária é gigantesca. Interessante, porém, é ressaltar como o imperialismo se aproveita da desgraça para fortalecer sua campanha pela dominação política do Líbano, que hoje tem um governo muito ligado ao nacionalismo do Hezbollah, grupo que combate o imperialismo na região.

França: Macron vai ao Líbano e exige pacto de submissão

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No dia 6 de agosto, apenas dois dias após a explosão na capital, o presidente da França, Emmanuel Macron, visitou o Líbano e fez uma declaração no sentido de pressionar o país a realizar uma reforma política. Ele prometeu uma ajuda aos libaneses, que estão totalmente arrasados, na condição de que estes mudem o regime político

"A prioridade hoje é ajuda, apoio incondicional à população. Mas há reformas indispensáveis ​​em certos setores que a França exige há meses, anos", disse Macron. "Se essas reformas não forem feitas, o Líbano continuará a afundar", afirmou. 

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Em outras palavras, aproveitou-se da desgraça do país e de seu povo, para propor um “novo pacto” que favorece os interesses da França, sabendo que as condições de negociação para os orientais estão totalmente desfavoráveis, ainda mais após o crescente desespero causado com o incidente.

"Estou aqui hoje para propor um novo pacto político. Se eles não conseguem manter esse pacto, assumirei minhas responsabilidades", reforçou o francês. “Tenho certeza que o Líbano irá dar a volta por cima, mas para isso será necessário que seus jovens lutem, e reformas sejam feitas”, ressaltou.

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Imperialismo, um parasita oportunista

Quer dizer, para o imperialismo, toda desgraça é uma boa oportunidade para aproveitar e estabelecer uma situação favorável aos seus interesses. Isso foi muito bem retratado pela escritora Naomi Klein em seu livro A Doutrina do Choque, em que ela mostra como a crise dos anos 1990 foi um momento de oportunidades para o neoliberalismo aprofundar sua política de privatizações e destruição, aproveitando-se inclusive de desastres naturais.

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Nesse sentido, Macron aproveitou a catástrofe humanitária no país para dizer que  "chegou a hora do Líbano mudar de sistema". Isto é, chegou a hora do Líbano se curvar aos interesses da França se quiserem receber alguma ajuda para reestruturar o porto da capital, o motor econômico do país, que sobrevive quase inteiramente disso.

No dia que Macron foi ao Líbano, uma petição assinada por 60 mil pessoas circulou no país solicitando que “o Líbano seja colocado sob um mandato francês pelos próximos dez anos”. Destacando problemas como “um sistema falido, corrupção, terrorismo e milícias” -  a tradicional campanha “ética” do imperialismo para justificar suas atrocidades.

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Difamação contra o Hezbollah

Da mesma forma, o desastre serviu para que um setor do imperialismo reforçasse sua campanha de difamação política contra os inimigos. O portal árabe Al Mayadeen informou no sábado, 8, que a revista norte-americana “Newsweek destacou que, pouco depois da explosão em Beirute, contas vinculadas à Arábia Saudita nas redes sociais começaram uma campanha de desinformação, procurando vincular o Hezbollah ao incidente”.

Sem nenhuma prova, os sauditas - que são representantes dos interesses dos Estados Unidos no Oriente Médio - passaram a acusar o grupo nacionalista Hezbollah de ter causado a explosão com nitrato de amônia no porto de Beirute. A campanha é apenas uma repetição do que alguns veículos estadunidenses estão propagando sobre a explosão.

O portal árabe também informou que “contra tais acusações, o secretário geral do Hezbollah, Sayyed Hasan, negou qualquer vínculo do movimento com a tragédia em Beirute. ‘É propaganda’, disse. Não obstante, assegurou que todas as conspirações contra o eixo da resistência serão em vão”.

Fica claro, então, que a explosão no Líbano não só acirrou a luta política no país, como também está sendo aproveitada pelo imperialismo que realiza uma ofensiva contra seus inimigos.

Protestos em Beirute: uma armação imperialista

No sábado, também, ocorreram protestos na capital do país. Em outro artigo publicado no Al Mayadeen, destaca-se que “o centro de Beirute foi cenário de novos protestos contra as condições de vida e as consequências provocadas pelo desastre”.

A sessão brasileira da agência de notícias norte-americana Reuters, informou que “manifestantes invadiram ministérios do governo em Beirute e danificaram os escritórios da Associação de Bancos Libaneses”. Os atos foram reprimidos pelas autoridades libanesas, porém um policial foi morto durante os conflitos. Ele teria caído no poço de um elevador após ser perseguido pelos manifestantes.

De acordo com a Cruz Vermelha, centenas de pessoas ficaram feridas. Além disso, um incêndio ocorreu na praça Martyrs, no centro da capital. A Reuters também afirma que “dezenas de manifestantes invadiram o Ministério das Relações Exteriores, onde queimaram uma fotografia do presidente Michel Aoun”.

Por sua vez, a agência russa Sputnik declarou que “os manifestantes pedem a renúncia do governo libanês e reformas no país”. A reação aos protestos foi que o primeiro-ministro Hassan Diab defendeu a antecipação das eleições para o Parlamento e que, neste domingo, 9, a ministra da Informação, Manal Abdel Samad, anunciou que irá renunciar ao cargo. Ademais, no sábado, em meio às manifestações, a embaixada dos Estados Unidos no país defendeu os manifestantes em sua conta no Twitter:

"O povo libanês sofreu muito e merece ter líderes que os ouçam e mudem o curso para responder às demandas populares por transparência e responsabilidade. Nós os apoiamos em seu direito ao protesto pacífico e encorajamos todos os envolvidos a se absterem da violência", escreveu.

Seriam os manifestantes os “jovens” que precisam lutar, citados por Macron? É suspeito que os EUA, maiores provocadores de golpes pelo mundo, os tenham apoiado. Da mesma forma, como destacou o portal russo Sputnik, as demandas eram pró-reforma, uma reivindicação dos franceses.

O caráter da manifestação é claramente de direita. O ponto central das reivindicações são, não só as reformas, como também a "luta contra a corrupção" e o Hezbollah. Os manifestantes fizeram forcas simbólicas com rostos de Hassan Nasrallah (líder do movimento xiita) e do presidente Michel Aoun. Esta cena já foi vista pelos brasileiros...

Os fatos indicam a efervescência da luta política após a explosão e a crise que se aprofunda no país.

Explosão causada por Israel? 

Muitos analistas já levantaram a possibilidade de haver uma causa política na explosão. Em artigo publicado no Diário Causa Operária, a redação do jornal do PCO questiona: “quem são os beneficiados com o prejuízo causado ao Líbano com esse acidente?”. E continua: “caso se confirme a hipótese de um atentado por parte do imperialismo, é preciso repudiá-lo como uma monstruosidade que isto significa. No entanto, ainda que nada fique provado, é pública a notória ingerência do imperialismo sobre os países da região”.

O jornal ainda lembra que “este ato de agressão externa poderia ter sido cometido pelo Estado de Israel, que é um dos principais aliados do imperialismo norte-americano no Oriente Médio”. “Um dos alvos seria o Hezbollah, uma força política do tipo nacionalista que tem muito poder e influência política no Líbano”, afirma.

Para o jornal, um “aspecto que reforça essa avaliação é que, oficialmente, o Líbano está em estado de guerra com Israel, o principal representante do imperialismo norte americano na região”. “Nas últimas décadas, diversos enfrentamentos ocorreram entre os israelenses e os libaneses. O Hezbollah é considerado uma organização terrorista pelo departamento de Estado dos Estados Unidos e é permanentemente atacado pelas forças militares israelenses”, lembra.

Os israelenses, inimigos históricos do Líbano, chegaram a projetar a bandeira do país árabe na capital Tel Aviv. Supostamente seria uma campanha humanitária do país que há anos bombardeia o povo libanês, tendo matado bem mais que a explosão em Beirute. Porém, tratando-se do imperialismo é natural acreditar que tal campanha tenha um caráter político para interferir na situação de crise.

Jornalista francês denuncia participação de Israel

Para o jornalista e militante político francês Thierry Meyssan, que escreveu no site Lewrockwell.com, a explosão no porto de Beirute na realidade foi um ataque premeditado pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de extrema-direita. 

“O ataque israelense foi realizado em 4 de agosto de 2020, precisamente contra um lugar que ‎Benyamin Netanyahu havia indicado quase 2 anos antes – em 27 de setembro de 2018–, durante ‎seu discurso na Assembleia Geral da ONU, como um depósito de armas do Hezbollah”, disse o francês.

No dia da explosão, o discurso de Netanyahu foi resgatado pela extrema-direita brasileira para atacar o Hezbollah:

Segundo o francês, Israel estaria utilizando uma “nova armada”, que “já foi testada, em janeiro de 2020, na Síria”. “Trata-se de um míssil dotado de um componente nuclear cuja explosão provoca o ‘cogumelo’ característico das explosões nucleares”. Ele destaca, porém, que não se trata de uma explosão nuclear.

Ele ressalta que “imediatamente depois do ataque, Israel ativou seus contatos na imprensa internacional para esconder seu crime e propagar a versão da explosão acidental de um grande carregamento de fertilizantes nitrogenados [nitrato de amônia]”. Para ele, entretanto, a principal “prova” de que a catástrofe foi causada por Israel é o formato da explosão, com forma de “cogumelo”. Não é suficientemente satisfatório, por enquanto. Porém, a comparação com a bomba atômica também foi destacada por alguns moradores da cidade.

"Eu estava com meu filho na sacada do nosso apartamento quando ouvimos uma primeira explosão. Nosso primeiro reflexo foi de nos abrigar. Sou uma 'filha da guerra', então tenho reflexos fortes. Escondi meu filho debaixo das escadas e logo depois ouvimos outra enorme explosão. Foi como uma bomba atômica. Tudo foi pelos ares: vidros, árvores... foi dramático. Nos 16 anos que presenciei a guerra, eu nunca vi uma explosão como essa", contou a moradora de Beirute Maliha Raydan à RFI.

Israel negou a participação do país na explosão que ocorreu em Beirute.

Muito cedo para afirmar

No final da tarde de 4 de agosto, o diretor da Segurança Geral de Beirute Abbas Ibrahim confirmou a presença de 2,700 toneladas de nitrato de amônio no porto. A confirmação ocorreu após reunião com o Conselho de Alta Defesa do país, que reúne o presidente e autoridades da segurança. A versão foi confirmada pelo presidente do país, Michel Aoun. A substância estaria estocada há mais de seis anos, após um navio Rhosus, com bandeira da Moldávia, ter sido apreendido. Ele estaria em direção a Moçambique.

A RFI, entretanto, informou que “as autoridades moçambicanas ligadas aos portos - que preferem não dar entrevistas - consideram que o país não tinha qualquer informação da chegada do navio Rhosus, com bandeira da Moldávia, que segundo informações avançadas por alguma imprensa, seguia da Georgia para Moçambique em 2013”.

Fato é que, com os dados que nos foram dados, ainda é muito cedo para confirmar uma ação política premeditada na explosão. O próprio presidente libanês, Michel Aoun, entretanto, não descarta essa possibilidade. “Existe a possibilidade de interferência externa através de um foguete, bomba ou outro ato", afirmou ele à imprensa libanesa.

Todavia, o que ficou claro com tudo isso é que o imperialismo está aproveitando-se da catástrofe para reforçar sua ofensiva contra o país, mostrando seu caráter desumano e parasitário. 

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